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FórumCCNTs e 62 instituições enviam Carta de Recomendações, sobre Revisão para Acelerar em Saúde Digital para CCNTs, ao Ministério da Saúde e Autoridades

O texto a seguir, também publicado em nosso site, desenvolvido durante o evento realizado no dia 29 de novembro de 2024, e encaminhado ao Ministério da Saúde, Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, e demais instituições, tomadores de decisões e autoridades, apresenta as prioridades identificadas pelo Fórum Intersetorial de CCNTs no Brasil (FórumCCNTs), especialmente por suas comissões, membros de seu GT Saúde Digital para CCNTs e parceiros, com destaque àqueles que o co-assinam, sobre a necessidade de uma Revisão Crítica para Aceleração da Saúde Digital em Condições Crônicas Não Transmissíveis (CCNTs).


Foto: Arquivo pessoal
Foto: Arquivo pessoal

As CCNTs, entre elas as altamente prevalentes — como hipertensão, dislipidemia, diabetes, asma, DPOC, câncer, apneia obstrutiva do sono e condições mentais e neurológicas — sempre dependeram de tecnologias para seu diagnóstico, monitoramento e cuidados. A Saúde Digital tem se tornado uma realidade cada vez mais presente no Brasil e possibilitando o avanço e a integração dessas diferentes tecnologias em telessaúde, análise de dados e educação profissional. Essa transformação oferece uma série de vantagens, mas também traz à tona desafios que precisam ser cuidadosamente considerados durante o desenvolvimento das soluções digitais e na implementação efetiva desses sistemas.


Um dos principais benefícios da Saúde Digital é a ampliação do acesso e a melhoria na qualidade dos serviços de saúde. No entanto, a expansão do acesso, por si só, não garante equidade. Para que a Saúde Digital seja efetiva e equânime, é fundamental que as inovações tecnológicas alcancem as populações vulneráveis, promovendo um acesso justo e inclusivo, bem como um maior engajamento das pessoas com seus cuidados de saúde.


A telemedicina e a telefarmácia, por exemplo, desempenham um papel importante na ampliação do acesso à saúde. Elas permitem que pessoas com CCNTs, especialmente aquelas em áreas remotas ou com dificuldades de locomoção, tenham acesso contínuo e monitorado a medicamentos e serviços de saúde, sem a necessidade de deslocamento. Isso não apenas melhora a experiência da pessoa, mas também reduz a pressão sobre os serviços de saúde presenciais, reduzindo filas e tempos de espera. Além disso, o fluxo de atendimento se torna mais eficiente com a digitalização de prontuários e sistemas de agendamento, facilitando a gestão e o acompanhamento das pessoas. 


Por meio de informações precisas, gestores podem tomar decisões fundamentadas em evidências, o que é especialmente útil para o monitoramento das condições mais prevalentes, como as CCNTs, e de interesse para a vigilância em saúde, como epidemias e endemias. A coleta e análise de dados de saúde em níveis nacional e local proporcionam uma visão mais clara das necessidades e tendências da população, identificando e informando, inclusive a necessidade de construir ou aprimorar políticas públicas e intervenções em saúde. 


No entanto, a transição dos serviços de saúde atuais para um modelo em grande parte digital não está isenta de riscos. A privacidade e a segurança dos dados das pessoas são preocupações centrais nesse contexto, sendo, inclusive, objeto de atuação e ações de advocacy por parte de diversas organizações do setor da saúde. É fundamental que as pessoas tenham total acesso aos seus dados médicos, incluindo resultados de exames, laudos, e prontuários de consultas e hospitais, idealmente interoperáveis em um único registro. Por outro lado, vazamentos ou acessos não autorizados podem comprometer a confiança no sistema de saúde, levando as pessoas a hesitar em compartilhar informações sensíveis. Além disso, é essencial que todos aqueles com acesso a essas informações cumpram com os dispositivos legais previstos na Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). 


A LGPD foi promulgada com o propósito de proteger os direitos fundamentais de liberdade e privacidade, além de garantir a livre formação da personalidade de cada indivíduo, estabelecendo diretrizes rigorosas para o tratamento de dados pessoais. Dessa forma, o cumprimento da LGPD é indispensável para que a digitalização dos serviços de saúde ocorra de maneira segura e ética, assegurando a privacidade dos usuários e a transparência no uso das informações coletadas. Esse compromisso é fundamental para a construção de um ambiente de confiança entre usuários, gestores e todo o ecossistema de saúde, garantindo que os benefícios da transformação digital sejam amplamente acessíveis sem comprometer a segurança e os direitos dos cidadãos. É crucial que cada cidadão tenha ciência e clareza sobre a destinação de seus dados, além de autonomia para gerenciar e decidir o acesso aos seus dados de saúde.


Vale ainda destacar as dificuldades atuais para alcançar a interoperabilidade entre os diferentes sistemas que coletam dados de usuários e consumidores de serviços de saúde.  Atualmente, o Sistema Único de Saúde (SUS) enfrenta o desafio da fragmentação, com mais de 600 sistemas de informação que não são integrados nem interoperáveis. Essa falta de integração e governança entre os entes federativos dificulta o compartilhamento e a associação de dados, comprometendo a eficiência do atendimento e a capacidade de gestão do sistema de saúde como um todo. A unificação e a interoperabilidade desses sistemas são fundamentais para melhorar a comunicação e garantir a continuidade do atendimento ao cidadão.


Sendo assim, a interoperabilidade se torna um tema essencial em Saúde Digital, pois é um avanço significativo que, se bem implementado, permitirá acelerar e aprimorar a tomada de decisões, desde terapêutica até as políticas, garantindo mais acesso, economia, equidade e sustentabilidade ao sistema de saúde. A interoperabilidade facilita a coordenação de cuidados para pessoas com condições crônicas, melhora a resposta a emergências de saúde pública, apoia a gestão pública na identificação de necessidades e duplicidades de consultas e exames, e possibilita a implementação de programas de saúde preventivos mais eficazes. A construção de uma base sólida de dados interoperáveis permitirá o avanço em contratos de compartilhamento de risco (Risking Share), Saúde Baseada em Valor (VBHC) e outras inovações, promovendo um sistema de saúde mais eficiente e integrado. 


Existem lacunas na produção de informação a partir dos dados gerados pelos diferentes sistemas, dificultando a análise mais aprofundada e abrangente das condições de saúde da população e, consequentemente, a tomada de decisão. Por exemplo, há ausência de informações indispensáveis para a Linha de Cuidado das CCNTs nos sistemas hoje disponíveis, como no caso do câncer do colo do útero, que utiliza o Sistema de Informação do Câncer (SISCAN). Além disso, a indisponibilidade desses dados para a tomada de decisões impede que o Estado tenha acesso às informações dos municípios, dificultando o monitoramento e a avaliação adequada.


Outro desafio significativo que deve ser enfrentado quando se fala em Saúde Digital é a desigualdade no acesso às tecnologias. Embora a Saúde Digital tenha o potencial de democratizar o acesso aos serviços, é fundamental garantir que populações socioeconomicamente mais vulneráveis e de regiões remotas tenham acesso a infraestrutura adequada — como internet e dispositivos digitais — além de garantir ações educativas que promovam o uso acessível e seguro desses recursos, para que o impacto da digitalização na saúde seja verdadeiramente inclusivo e equitativo, permitindo que todos usufruam desses recursos. Investir na capacitação dos gestores e dos profissionais da saúde é imprescindível, a fim de garantir que todos os envolvidos no processo saibam utilizar essas novas tecnologias adequadamente, incluindo formação em segurança da informação. Sem políticas inclusivas que contemplem esses aspectos, corre-se o risco de a Saúde Digital acentuar as disparidades já existentes no sistema de saúde. Vazios assistenciais podem se ampliar, criando bolsões de excluídos em saúde digital. 


A dependência excessiva da tecnologia é outro ponto que também merece atenção. Deve-se sempre ter cautela para que a tecnologia e as estratégias de saúde digital sejam implementadas a favor e não contra os cuidados centrados nas pessoas e com participação ativa das pessoas com CCNTs e outras condições de saúde, prevenindo o risco de cuidados tecnológico-biomédico-cêntricos. Embora as ferramentas digitais possam melhorar o atendimento, elas não devem substituir por completo o contato humano essencial na prática médica. A relação entre as pessoas e suas equipes de saúde é fundamental para uma abordagem integral e um cuidado de qualidade. Mesmo nesse aspecto, a Saúde Digital pode ser uma grande aliada, trazendo a orientação de especialistas para regiões remotas através de teleconsultoria. Com acesso a consultores endocrinologistas, neurologistas, nefrologistas e cardiologistas, por exemplo, as equipes locais conseguem acompanhar ou decidir pelo referenciamento adequado, casos de diabetes tipo 1, suspeita de AVC ou infarto, ou condição renal. 


Devemos ainda lembrar que a Avaliação de Tecnologias em Saúde (ATS) é uma etapa essencial para a incorporação de medicamentos, produtos e procedimentos no SUS, especialmente para garantir que os dispositivos sejam seguros, eficazes, custo-efetivos e acessíveis. Neste sentido, enfatizamos que, atualmente, a Conitec não conta com diretrizes de ATS e critérios de incorporação de tecnologias em Saúde Digital no Brasil, enquanto outros países já contam com essas diretrizes.


Vale citar nesta oportunidade, que a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou o relatório "A digitalização das condições crônicas não transmissíveis: o caso para ação”, que destaca a importância das intervenções de Saúde Digital (telessaúde, saúde móvel e chatbots) para a prevenção e gerenciamento das CCNTs, enfatizando seu impacto positivo para a saúde global. Um dos principais achados neste relatório é que investir US$0,24 por pessoa em tecnologias digitais para CCNTs pode, em 10 anos, salvar mais de 2 milhões de vidas, reverter cerca de 7 milhões de eventos agudos e ganhar aproximadamente 5 milhões de anos de vida. Além disso, pode gerar US$199 bilhões em benefícios econômicos, com um retorno de US$19 para cada US$1 investido. 


No Brasil, a Estratégia de Saúde Digital para o Brasil 2020-2028 visa melhorar a gestão e o uso de tecnologias digitais no Sistema Único de Saúde (SUS), promovendo a integração, inovação e a melhoria contínua dos serviços de saúde. Ela abrange diversas áreas, como a Política Nacional de Informação e Informática em Saúde (PNIIS), a Estratégia e-Saúde para o Brasil e o Plano de Ação, Monitoramento e Avaliação de Saúde Digital para o Brasil. Isso inclui a digitalização do histórico de saúde dos cidadãos, a telessaúde, e o uso de inteligência artificial e internet das coisas (IoT) para melhorar a saúde pública. Na atual gestão, a centralização desses esforços na recém-inaugurada Secretaria de Informação e Saúde Digital (SEIDIGI) tem sido celebrada por todos. No entanto, ainda há dúvidas sobre o impacto dessa coordenação centralizada no cenário da principal causa de mortes no país: as CCNTs. 


Com esse objetivo, o FórumCCNTs e seus parceiros vêm trabalhando para fortalecer programas e políticas em Saúde Digital para as CCNTs, a fim de dar visibilidade, sustentabilidade e escala a práticas exitosas e, consequentemente, potencializar desfechos positivos na saúde da população. 


O Grupo Temático Saúde Digital para CCNTs do FórumCCNTs, que lidera esta discussão, identificou como problema prioritário deste tema a ausência de políticas públicas de padronização, orientação e incentivo voltadas às jornadas digitais por linhas de cuidado de CCNTs”. Ou seja, não localizou diretrizes claras e uniformes para integrar e gerenciar as diferentes tecnologias e sistemas de saúde. Sem essas políticas, a implementação de soluções digitais pode ser fragmentada e ineficaz, dificultando o acompanhamento e os cuidados contínuos das pessoas com CCNTs. Em essência, isso limita a capacidade do sistema de saúde de fornecer cuidados consistentes para pessoas com CCNTs, por linhas de cuidado de qualidade, aproveitando adequadamente as tecnologias disponíveis.


Neste sentido, o FórumCCNTs, seus membros e parceiros identificaram três objetivos principais para alcançar melhores práticas e resultados no setor. Primeiramente, julgamos necessário reconhecer os gargalos para a interoperabilidade de sistemas que perpassam os diferentes níveis de atenção à saúde, o que permite aprimorar a gestão da pessoa com CCNTs e facilitar sua jornada de cuidado. Segundo, é necessária a identificação dos programas de saúde digital que têm trazido qualidade de cuidados para condições e crônicas não transmissíveis, mesmo em regiões mais remotas do Brasil. Por fim, é essencial compreender os planos para avanços na área que beneficiarão pessoas com CCNTs e promover o engajamento dos diferentes setores para dar escala e agilidade a esses planos, garantindo a equidade.


Entre as prioridades, para as quais gostaríamos de contar com o engajamento dos diferentes setores e níveis de atenção, estão as estratégias de interoperabilidade digital dentro das linhas de cuidado CCNTs. As linhas de cuidado asseguram que cada etapa do tratamento esteja bem definida e integrada, desde a promoção de atividades físicas e combate ao tabagismo, até o atendimento especializado via telediagnóstico, teleconsulta ou teleconsultoria, e acompanhamento hospitalar.


No contexto da Saúde Digital, as tecnologias permitem monitorar continuamente as pessoas ao longo de seu ciclo de vida e podem ser extremamente relevantes quando utilizadas em linhas de cuidado e para os autocuidados. Contudo, isso pode se tornar um grande desafio quando cada equipamento e sistema de informação funciona de forma isolada, sem comunicação, conectividade e interoperabilidade, desde a agregação de dados para uma visão integral e coesa da saúde do indivíduo, até o retrato da saúde populacional.


A interoperabilidade não será completa, levando à otimização da implementação de todas as linhas de cuidados de CCNTs, fatores de risco e outras condições, sem que haja um compromisso por parte do Ministério da Saúde, das Secretarias Municipais, das Secretarias Estaduais, empresas e startups que desenvolvem os equipamentos e sistemas, e a vital participação da sociedade civil e profissional organizada. Dessa forma, com padrões de informação mais robustos e modelos claros, desenvolvidos de forma participativa, os dados poderão ser coletados de maneira eficiente em diversas regiões do país. Isso permitirá gerar as estratificações necessárias para a gestão pública e garantir que as informações sejam acessíveis às pessoas em qualquer lugar, facilitando a transição de dados entre diferentes estágios de cuidado.


Em relação ao segundo item do debate proposto, identificamos que a Saúde Digital tem avançado pelo país com projetos exitosos. O objetivo principal do FórumCCNTs é dar visibilidade a essas iniciativas, algumas delas elencadas ao final deste documento para que, com a parceria de gestores municipais, estaduais, federais, universidades, setor público, privado, sociedade médica e civil organizada, esses programas tenham sustentabilidade e ganhem escala, beneficiando mais pessoas com CCNTs.


Entre essas iniciativas, estão aquelas lideradas por universidades federais em parceria com o Ministério da Saúde, em teleoftalmologia/telerretinografia, tele-espirometria e telecardiologia.  O ideal seria que essas iniciativas estivessem implementadas em muito mais municípios do país. Por essa razão, entendemos que tanto o Ministério da Saúde quanto o CONASEMS e o CONASS têm papel fundamental no fortalecimento dessas redes, desde a disseminação de informações e facilitação do engajamento dos municípios até a capacitação de seus profissionais de saúde e o fornecimento de equipamentos em suas unidades de saúde, para que possam operacionalizar e oferecer esses serviços de saúde digital já disponíveis no SUS.


Além disso, enfatizamos que o processo de letramento e educação em saúde digital – tanto para profissionais de saúde quanto para pessoas com condições de saúde e o público em geral – deve ser um pilar fundamental para garantir a eficiência no uso das tecnologias em saúde. Quando os profissionais desconhecem a existência dessas ferramentas ou não têm habilidade para utilizá-las, perde-se uma enorme oportunidade de melhorar o manejo de condições de saúde com instrumentos digitais. 


Vale ainda destacar o potencial do uso de análise preditiva em saúde, que possui grande habilidade para otimizar operações, prever tendências e aprimorar a experiência dos usuários, antecipando riscos para o desenvolvimento de uma CCNT e agindo prontamente para mitigar esses riscos. No campo da saúde digital para cuidados com CCNTs, o uso de algoritmos pode melhorar a predição e a tomada de decisões, analisando grandes volumes de dados, identificando padrões, prevendo surtos de condições e personalizando tratamentos. Alguns estudos apontam a superioridade de ferramentas de inteligência artificial e chatbots, seja no laudo de exames, na triagem de pessoas buscando assistência ou na empatia percebida por quem passa por uma consulta. Entendemos que essas ferramentas dependem necessariamente de programação por especialistas humanos e apresentam melhores resultados quando utilizadas em conjunto com especialistas em CCNTs devidamente preparados.


Os aplicativos, com suas múltiplas e centrais funcionalidades, wearables, gadgets e outras inovações, também trazem importantes contribuições para a redução de custos, ampliação de diagnósticos, melhoria dos autocuidados e monitoramento, entre outros aspectos. Alguns exemplos dessas iniciativas também foram listados ao final deste documento.  


Um ponto essencial é conectar a saúde digital às tecnologias diagnósticas, indo além dos modelos de telediagnóstico descritos acima. Nesse contexto, o GT Condições Cardiovasculares do FórumCCNTs propôs um pacote mínimo para diagnóstico e monitoramento de CCNTs na Atenção Primária (APS). Considerando que diversas CCNTs estão subdiagnosticadas no país – incluindo diabetes, condição renal crônica, hipertensão, retinopatia, neuropatia, diferentes tipos de câncer, DPOC, asma, apneia obstrutiva do sono – e que diagnósticos tardios resultam em prognósticos piores e custos mais altos (29 vezes maior quando o diabetes já está acompanhado por complicações, por exemplo), a necessidade de equipar a APS com equipamentos simples de Point of Care (PoC) mostra-se fundamental. Para pessoas já diagnosticadas, o acesso a exames simples, mas fundamentais na APS, possibilita ajustes terapêuticos oportunos, melhorando significativamente os prognósticos. Exemplos de projetos que apresentam resultados consistentes também foram incluídos ao final deste documento. 


Com isso, incentivamos outros municípios e estados a conhecerem experiências exitosas e planejarem estratégias que promovam o diagnóstico precoce e monitoramento contínuo das pessoas com CCNTs. Essas iniciativas visam reduzir o subdiagnóstico, prevenir complicações evitáveis e mortes prematuras. Paralelamente, encorajamos o Ministério da Saúde a avaliar a incorporação de tecnologias que aprimorem e tornem mais resolutiva a Atenção Primária à Saúde (APS). Equipar a APS com esses recursos é fundamental para alimentar o e-SUS, possibilitar a tomada de decisões estratégicas pelos profissionais de saúde e gestores, e fortalecer iniciativas de saúde digital, como teleconsultoria com especialistas. Além disso, aos fabricantes desses equipamentos que não pratiquem preços exorbitantes e colaborem com o setor público na promoção da conectividade e da interoperabilidade entre os sistemas de informação do SUS e seus dispositivos.


Em relação ao terceiro objetivo proposto — compreender os planos para avanços na área que beneficiarão pessoas com CCNTs e promover o engajamento dos diferentes setores para dar escala e agilidade a esses planos, garantindo a equidade — felicitamos o Ministério da Saúde pelos planos da pasta para fortalecer a Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS), promovendo a troca segura de informações. Apesar do progresso contínuo da RNDS em direção aos municípios, ainda identificamos desafios importantes. É crucial que os dados coletados não se percam e que haja uma promoção contínua e integrada de seu uso tanto por gestores quanto pelas próprias pessoas com CCNTs, e dentro das linhas de cuidado.


Enfatizamos a relevância do Cadastro de Usuários do Sistema Único de Saúde (CADSUS) como um elemento estruturante para garantir a interoperabilidade dos dados em saúde. A consolidação do CADSUS representa um passo fundamental para impulsionar a Saúde Digital no Brasil, viabilizando a integração das informações de maneira segura e eficiente, beneficiando toda a população.


A governança de dados em saúde é um pilar essencial para o avanço das políticas públicas e da Saúde Digital no Brasil. Enfatizamos a necessidade de um compromisso claro, que deve ser firmado e seguido pelos setores público, privado e terceiro setor, abrangendo todos os níveis de atenção e contando com a participação ativa dos cidadãos. O fluxo e compartilhamento dos valiosos dados de saúde, tanto para decisões clínicas quanto políticas, demandam uma coordenação rigorosa que assegure a integração, proteção e acessibilidade desses dados. Assim, será possível maximizar os benefícios dessas informações para aprimorar a qualidade das medidas preventivas e de atenção à saúde.


O desenvolvimento de soluções tecnológicas deve aproximar gestores de outros atores relevantes para identificar desafios e problemas prioritários, promovendo o enfrentamento conjunto por meio de inovação e parcerias. A participação da sociedade, por meio de Inovação Aberta — respaldada por uma legislação específica e mais flexível que permite parcerias ágeis — precisa ser induzida e amplamente aplicada em benefício do Sistema Único de Saúde (SUS). É fundamental abordar o tema de forma transversal e intersetorial, engajando outros setores e ministérios, como MCTI e MDIC, além de empresas, e sociedade civil.


Em relação à continuidade do cuidado, destacamos a importância de ampliar a infraestrutura digital no país, exemplificada pelo cabeamento de Santarém a Manaus, bem como iniciativas que promovam o autocuidado e a autonomia dos cidadãos. Soluções digitais, como o aplicativo Meu SUS Digital (antigo ConecteSUS), têm papel central nesse cenário. Sugerimos que o aplicativo pudesse incorporar funções descritas acima em outros aplicativos, como receber inputs do usuário sobre sua saúde - como peso, glicemia, entre outros -, permitisse acesso a laudos de exames laboratoriais e prontuários médicos, assim como à carteira vacinal. Na área de vacinação, há importantes progressos, e recomendamos a inclusão de alertas personalizados, como notificações automáticas, para quando o cidadão atingir a idade de receber dose de reforço de vacina específica, ou mesmo vacinas a serem recomendadas a partir de um novo diagnóstico recebido. Além disso, reforçamos a necessidade de integrar essas informações com estados e municípios, possibilitando o uso estratégico dos dados na tomada de decisões locais e no acompanhamento eficaz das CCNTs pelas equipes de saúde. 


Destacamos o papel da Atenção Primária à Saúde (APS) como porta de entrada do SUS com sua capilaridade nacional, na coleta e atualização dos dados de saúde dos cidadãos. Entretanto, alertamos para os riscos associados à terceirização da gestão desses dados,  seja por meio de sistemas de informação próprios, seja por sistemas desenvolvidos por empresas contratadas que, muitas vezes, não se integram ou não possuem interoperabilidade com os sistemas do SUS.


Ante o exposto, reiteramos que a digitalização da saúde é um processo contínuo que exige coordenação, planejamento e capacitação. A implementação de estratégias digitais e, especialmente, da interoperabilidade, são essenciais para aprimorar os cuidados com as CCNTs e tornar o sistema de saúde mais eficiente, acessível e racional. As CCNTs, como diabetes mellitus (DM), cânceres, condições cardiovasculares (DCV), condições respiratórias e renais crônicas (DRC), representam uma ameaça significativa à saúde global e ao desenvolvimento socioeconômico. Essas condições foram responsáveis por 17 milhões de mortes apenas em 2022. No Brasil, mais de 75% dos óbitos estão relacionados a essas condições, que também representam 47,9% dos custos de hospitalização. Muitos casos ainda permanecem subdiagnosticados e tratados tardiamente, especialmente em regiões remotas de nosso vasto território.


Assim como em outros países, a saúde digital oferece a oportunidade de potencializar o alcance e a resolutividade do sistema de saúde, permitindo o acompanhamento contínuo de CCNTs, com impacto positivo na qualidade de vida e melhor desfecho. O futuro da Saúde Digital dependerá da colaboração entre todos os setores e atores envolvidos, bem como de um compromisso para superar os desafios atuais e promover uma transformação significativa, impactante, e duradoura no cuidado à saúde. É essencial a formação de uma comunidade prática e colaborativa para a promoção de uma governança eficaz em níveis local, nacional e global. Nesse sentido, destacamos a importância da participação ativa e significativa das pessoas que vivem com CCNTs para a co-criação de estratégias. Isso garantirá que as soluções sejam desenhadas para atender efetivamente às necessidades reais dessas populações, evitando desperdício de recursos e promovendo resultados sustentáveis.


Reiteramos estarmos à disposição para colaborar e trabalharmos juntos nesse processo para otimização das políticas e programas de Saúde Digital, para que com isso, consigamos avançar nos desafios elencados acima, melhorando a saúde e a qualidade de vida da população em risco ou vivendo com uma ou mais CCNTs. 


Atenciosamente,


Mark Barone, PhD

Fundador e Coordenador Geral

Fórum Intersetorial de CCNTs no Brasil (FórumCCNTs)


Alberto J. N. Ogata, MD, MSc, PhD

Pesquisador Associado

FGV EAESP


Alexandre Chater Taleb, MD, PhD

Docente

Núcleo de Telemedicina e Telessaúde - Faculdade de Medicina

Universidade Federal de Goiás (UFG)


Ana Carolina Micheletti Gomide Nogueira de Sá, PhD

Docente e Pesquisadora

Departamento Materno Infantil e Saúde Pública, Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)


Ana Maria Drummond, MBA

Diretora Institucional

Instituto Vencer o Câncer


Andre Bressan, MBA, MD

Health Advisor

SeniorTech Ventures


Átila Alexandre Trapé, MD, PhD

Professor Associado da Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto (EEFERP-USP)

Membro do GT Atividade Física do FórumCCNT


Bárbara Shibuya Alves, MSc

Enfermeira e Educadora em Diabetes


Beatrice Vetter, PhD

Director, Non-communicable diseases

FIND, Diagnosis for All


Bruna Paola Murino Rafacho, PhD

Docente

Universidade Federal de Mato Grosso do Sul


Bruno Borghi, MBA

Presidente

Associação Brasileira de Startups de Saúde (ABSS)


Carine de Cássia Souza de Assis Ribeiro Rodrigues, MSc

Diretora de Estratégia de Saúde da Família

Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal


Carlos Tucci, MD, MSc

Coordenador Comissão de Políticas em Saúde 

Sociedade Brasileira de Coluna


Celina Rosa Martins, MBA

Consultora

Instituto Vencer o Câncer


Claudia Simeire Albertini, MSc, PhD

Fisioterapeuta

Gerente Educacional e de Relações Internacionais 

Biologix Sistemas SA


Cláudio Roberto Tucunduva Coelho, MBA

Vice-Presidente

Associação Brasileira de Startups de Saúde (ABSS)


Douglas Graciano da Silva

Gerente Institucional

ResMed Brasil


Eduardo Marques Macário, PhD

Sanitarista

Secretaria Estadual da Saúde de Santa Catarina


Elton Junio Sady Prates, RN, MSc

Secretário Geral

Associação Brasileira de Enfermagem Seção Minas Gerais (ABEn-MG)


Emerson Cestari Marino, MD 

Médico Endocrinologista 

Membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia 

Membro do conselho de administração do Instituto da Pessoa com Diabetes (IPD)


Fabiana Magnabosco de Vargas

Nutricionista

Vice-presidente Região Sul

Federação das Associações de Celíacos do Brasil (FENACELBRA) 


Fabio da Silva Moraes, PhD

Pesquisador em Saúde e Regulação de Dispositivos em Saúde

 ICT FIT Instituto de Tecnologia

Membro do GT Saúde Digital do FórumCCNTs

Membro do GTT de Farmácia Clínica CRFSP


Felipe Azevedo Moretti, MBA, MSc, PhD

Pesquisador e Psicólogo

Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) 


Fernando Valente, MD, MSc

Médico Endocrinologista, RQE: 73300 

Membro da Diretoria da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) 2024-2025


Guilherme Joo Sakajiri, MBA

CEO

Comsentimento


Helena Oliveira Salomão 

Pesquisadora - Doutoranda

Universidade Federal da Bahia (UFBA)


Hermelinda Pedrosa, MD

Assessora de Relações Exteriores e Vice-Presidente

Sociedade Brasileira de Diabetes e D-FOOT International


Iseli Yoshimoto Reis 

Arquiteta e Urbanista - Arquitetura Hospitalar 

 Fleximedical Soluções em Saúde Ltda 

Co-Facilitadora do GT Saúde Digital do FórumCCNTs

Membro da Rede Schwab Foundation de empreendedorismo social 


Jaqueline de Jesus Correia

Presidente

Instituto Diabetes Brasil


Johannes Boch, MSc

Diretor de Saúde Populacional 

Fundação Novartis


José Cristiano Soster

Sanitarista, Especialista em Micropolítica

Coordenador da Assessoria e Consultoria

COSEMS-Bahia


José Vanilton de Almeida, MSc

Coordenador do Comitê de Condições Crônicas Não Transmissíveis 

Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo 


Julia Cestari Santos, MPP

Coordenadora Comitê de Healthtechs

Movimento Inovação Digital (MID)


Juliana Fleury, MBA

Presidente - CEO Voluntária

ASEc+ Associação pela Saúde Emocional


Juliana Nabarrete

Coordenadora de Assistência

SAS Brasil


Laís Caroline Werdemberg dos Santos, PhD 

Pesquisadora

Universidade Federal da Bahia (UFBA)


Laisa Liane Paineiras Domingos, PhD 

Docente

Universidade Federal da Bahia (UFBA)


Luana Ferreira Lima

Gerente de Políticas Públicas e Advocacy

Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (ABRALE)


Lucia Helena Modesto Xavier, MBA

Advocacy

ADJ Diabetes Brasil


Luiz Roberto Carvalho, MBA, MSc

CEO

Soulbeegood 


Marcio Galvão Oliveira, PhD

Docente e Pesquisador

Instituto Multidisciplinar em Saúde da Universidade Federal da Bahia (UFBA)


Maria Aparecida Turci, PhD

Docente e Pesquisadora

Universidade Professor Edson Antônio Velano e Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais


Maria Joana Silva Cabral Barcellos 

Assessora Parlamentar

Câmara dos Deputados 


Maria José Martins de Souza, MSc

Farmacêutica

 Coordenadora do Grupo Técnico de Saúde Pública

Conselho Regional de Farmácia (CRFSP) 


Maria Odete Pereira, PhD

Professora adjunto da UFMG

Diretora de enfermagem e coordenadora do Departamento de Saúde Mental da ABEn-MG

Facilitadora do GT Saúde Mental e Neurológica do FórumCCNTs


Maria Paula de Albuquerque, MD, PhD

Gerente Geral Clínica

CREN


Matheus Chaluppe de Oliveira 

Membro do GT Obesidade do FórumCCNTs 

Acadêmico de Medicina da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS)


Melissa do Amaral Ribeiro de Medeiros

Especialista na vivência

Fundadora e Presidente

Associação Brasileira de Câncer de Cabeça e Pescoço (ACBG Brasil)


Michele Aline de Mello

Gerente de Relações Governamentais em Saúde Digital


Michely Arruda Bernardelli 

Enfermeira, Educadora em Diabetes,

Co-facilitadora do GT de Diabetes do FórumCCNTs

Conselheira Municipal de Saúde

Presidente da Associação Doce Vida - Unidos pelo Diabetes de Lages/SC


Monica Soares Amaral Lenzi

Diretora de Educação

Movimento Influencers Diabetes Brasil (MIDB)


Neila Campos

Presidente

Associação Brasileira de Familiares Amigos e Portadores de Transtorno Afetivos


Patricia Vieira de Luca, MSc

Diretora Executiva da Associação Brasileira de Hipercolesterolemia Familiar (AHF)

Co-fundadora do Grupo de Advocacy Cardiovascular (GAC)

Co-Fundadora do Fórum Intersetorial de CCNTs no Brasil


Paulo Cesar Correa, MD, MPH

Médico Pneumologista

Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT)


Priscila Juceli Romanoski, MSc, PhD 

Enfermeira, docente e pesquisadora 

 Responsável técnica na Gerência de Atenção, Promoção e Prevenção à Saúde

Diretoria de Atenção Primária à Saúde / Secretaria do Estado de Santa Catarina


Ricardo Moraes, MD

Diretor Médico

Afya


Ronaldo José Pineda Wieselberg, MD, MPH

Médico Endocrinologista, RQE: 127917

Presidente - ADJ Diabetes Brasil


Rosane da Silva Alves-Cunha, MSc

Pesquisadora, Especialista em Gestão de Políticas Informadas por Evidências

HSL/PROADISUS/MS 

Co-Facilitadora do GT de Dor Crônica do FórumCCNTs

Membro da Organização Mundial do AVC (WSO)

Associada à Rede Brasil AVC

Voluntária na Associação Ação AVC de Maceió


Sheila Cristina Ouriques Martins, MD, PhD

Presidente e Immediate Past-President

Rede Brasil AVC, World Stroke Organization


Sonia Maria Martins, MD

Médica de Família e Comunidade

Professora Assistente no Centro Universitário FMABC

Coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisa Respiratória na APS - GEPRAPS


Valeria Pastor Alexandre de Araújo

Coordenadora de Atenção às Condições Crônicas na Atenção Primária à Saúde

Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco


Vanessa Araujo Montanari, MD, MSc

Médica Endocrinologista, RQE: 26377 

Membro do Departamento de Tecnologia e Inovação em Diabetes

Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) 2023-2024


Yara Carnevalli Baxter, PhD

Executiva de Projetos

Fundação Novartis


 

Abaixo as sugestões, por membros do GT Saúde Digital para CCNTs do FórumCCNTs e painelistas do evento, de iniciativas, ferramentas e estratégias de Saúde Digital com potencial para melhorar o cenário das CCNTs no país.


No Centro de Telessaúde do Hospital das Clínicas da UFMG, por exemplo, diversos programas são conduzidos para melhorar os desfechos clínicos das pessoas com condições cardiovasculares e respiratórias, com foco em telediagnóstico, teleconsultoria e tele-educação. O Projeto Minas Telecardio, iniciado em 2005, exemplifica essa atuação ao implementar a telecardiologia em várias cidades mineiras. Posteriormente, a oferta de telediagnóstico, no caso telecardiografia, foi ampliada para além do Estado de Minas Gerais, com mais de 7 milhões de laudos de eletrocardiograma emitidos.


Liderado pela mesma instituição, Telessaúde do HC-UFMG, em parceria com o Ministério da Saúde, desenvolveu o programa de Tele-Espirometria na atenção primária, com o objetivo levar a espirometria, um exame essencial para o diagnóstico e acompanhamento de condições respiratórias, para municípios brasileiros que não têm acesso a esse serviço.  Os laudos emitidos por um especialista à distância, em 147 municípios de 23 estados do país, têm reduzido filas para o exame que chegavam a mais de três anos. 


Outro serviço semelhante, que beneficiará muito mais pessoas ao ser escalado para mais regiões do país, é o de teleoftalmologia ou telerretinografia. Implementado pela Universidade Federal de Goiás (UFG), que atua como centro laudatório nacional de imagens de fundo de olho para o Ministério da Saúde, essa iniciativa utiliza a tecnologia de retinografia para o diagnóstico precoce das principais causas de cegueira, como catarata, glaucoma, degeneração macular relacionada à idade e retinopatia em pessoas com diabetes. A teleoftalmologia permite que especialistas realizem diagnósticos precisos à distância, proporcionando acesso a cuidados oftalmológicos de qualidade para pessoas em diversas regiões, através da orientação de equipes locais.


Ainda sobre avanços de saúde digital para diagnóstico e tratamento de CCNTs com potencial de escala, melhores desfechos e redução de mortes prematuras, destacamos o projeto Abraçar e a Linha de Cuidado da Apneia Obstrutiva do Sono.  Enquanto o primeiro guarda diversas semelhanças com o programa Tele-espirometria, otimizando diagnóstico e cuidados de condições respiratórias crônicas na Atenção Primária, o segundo, implementado inicialmente na cidade de Araguari, foi reconhecido pela OMS como um modelo global de ação multissetorial para CCNTs. Em ambos os casos, a parceria entre setores, a simplificação de processos e a adoção de tecnologias têm sido fundamentais para os resultados e expansão dos modelos.


Ainda sobre distúrbios do sono, a startup Biologix desenvolveu um equipamento portátil validado de baixo custo que permite dar escala ao diagnóstico de apneia do sono (AOS). Assim como outros gadgets, wearables e aplicativos desenvolvidos por startups, o potencial de integração dessas ferramentas com o objetivo de superar gargalos como o subdiagnóstico deve ser avaliado. No caso da AOS, seu impacto sobre a saúde é amplamente reconhecido, incluindo como um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento e agravamento das CCNTs mais prevalentes, além de ser altamente prevalente - de mais de 30% da população.


Os aplicativos têm se mostrado grandes aliados para melhorar o cenário das CCNTs no país. Em Pouso Alegre, por exemplo, o Programa de Saúde Digital visa melhorar o atendimento a pessoas com CCNTs, especialmente o atendimento de mulheres com câncer de mama. O projeto surgiu da necessidade de ampliar o acesso à saúde da população, após um estudo que revelou que as pessoas diagnosticadas com câncer de mama levavam mais de 100 dias para iniciar o tratamento. O aplicativo desenvolvido para melhorar essa atenção permite monitorar as mulheres que realizaram ou não exames de mamografia e os encaminhamentos a partir dos resultados, agilizando inclusive o retorno de quem apresentou resultados alterados, melhorando e agilizando as conexões entre os níveis de atenção. Em paralelo, a startup Huna utiliza hemogramas para identificar sinais indicativos de risco de câncer de mama em mulheres. Com o objetivo de otimizar o rastreamento e o diagnóstico precoce, a Huna ajuda gestores de saúde a organizar melhor as filas para exames de mamografia, com capacidade de antecipar diagnósticos desse tipo de câncer em até 16 semanas, proporcionando uma oportunidade para tratamento precoce e aumentando significativamente as chances de cura.


Entre os muitos aplicativos disponíveis, outro aplicativo de potencial interesse é o MPI Brasil - desenvolvido em parceria com o Instituto SocialTech para auxiliar profissionais de saúde na prescrição de medicamentos apropriados para idosos. O aplicativo fornece uma busca rápida sobre medicamentos potencialmente inapropriados (MPI) para idosos, com base no Consenso Brasileiro de Medicamentos Potencialmente Inapropriados para Idosos.


Para o manejo do diabetes, uma série de municípios já adotam aplicativos com muitas funções, incluindo alertas para a hora da tomada de medicamentos e cálculo de doses de insulina de acordo com a glicemia e carboidratos da refeição. Esses aplicativos permitem o monitoramento dos usuários à distância pelas equipes que os acompanham e acesso por gestores a plataformas detalhadas para acesso aos dados de grupos populacionais. A adoção desse tipo de ferramenta permite a identificação de indivíduos ou grupos que precisam de atenção mais imediata. Ao mesmo tempo, o uso desses aplicativos se mostrou tão benéfico para a manutenção da glicemia dentro do alvo quanto o uso de bomba de infusão de insulina, com custos econômicos muito inferiores. 


Através do uso de estratégias com equipamentos Point-of-Care (PoC)Com esse tipo de estratégia, em São Paulo, calculou-se a redução de 9,9% dos casos de AVCs e 7,9% das mortes e, em Vitória da Conquista, a significativa redução da hemoglobina glicada em 0,9 pontos percentuais e de 10,5% da pressão arterial se mostrou custo-efetiva e com custo-paridade, levando o município a incorporar os testes de PoC para hemoglobina glicada em sua APS. Incentivamos municípios e estados a conhecer experiências exitosas e planejar estratégias para o diagnóstico precoce e monitoramento contínuo dessas pessoas, a fim de reduzir subdiagnóstico, complicações evitáveis e mortes prematuras. 


Entre programas já em andamento, citamos dois que têm reduzido mortes de forma expressiva. Ambos resultados de parceria entre setores, com liderança acadêmica e adoção por municípios. O primeiro deles é o Programa "Cidade Angels", que foca na prevenção e tratamento em tempo adequado do AVC. Em Ribeirão Preto, primeira cidade de implementação, participam do projeto desde as escolas primárias, SAMU e hospitais, levando o tratamento do AVC com trombolíticos a mais de cinco vezes mais pessoas que outros municípios do Brasil. Atualmente outros dois municípios, Sapucaia do Sul e Joinville já adotam o projeto, que só é possível com uma série de componentes de saúde digital e, idealmente, poderia estar em todo o país. O outro projeto, desenvolvido pelo Triângulo Health Institute, para telediagnóstico de infarto, permite diagnósticos e tratamentos rápidos, como trombólise e angioplastia, reduzindo a mortalidade de 25% para 4%. Esse projeto fez uso de algoritmos com inteligência artificial para identificar infartos e recomendar tratamento, assim como o hospital mais próximo com estrutura adequada.


Voltado à estratégia de Aracajú, o simulador dinâmico CARDIOAJU visa o uso dessa ferramenta digital para transformar a saúde cardiovascular da população através do fortalecimento da Atenção Primária à Saúde na capital e é baseado em quatro pilares estratégicos: gestão do processo de cuidado, busca ativa, cuidado integrado e plano de autocuidado. Além disso, o projeto inclui a implementação do Cantinho CardioAju, uma estrutura portátil e adaptável para busca ativa de pessoas com condições de saúde com fatores de risco, tanto dentro das unidades de saúde quanto em eventos externos.


Quanto ao impacto significativo na redução da distância de deslocamento com a adoção de estratégias de saúde digital, podemos citar o exemplo do Ceará. Entre janeiro e julho de 2024, foram realizados 918 teleatendimentos no estado - integrados ao complexo regulador. O uso coordenado da telessaúde evitou um total de 256 mil quilômetros em deslocamentos, demonstrando a eficiência e os benefícios da saúde digital em reduzir a necessidade de viagens para atendimento médico.


Reiteramos que estamos à disposição como FórumCCNTs e instituições parceiras a apoiar o progresso em saúde digital para melhorar o cenário das CCNTs no Brasil.


Respeitosamente,


Mark Barone, PhD

Fundador e Coordenador Geral

Fórum Intersetorial de CCNTs no Brasil (FórumCCNTs)

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