Na tarde da última sexta-feira (12), o FórumDCNTs promoveu o painel “Gestão do Câncer no Brasil: Necessidade de Ajustes Imediatos”. O evento teve como objetivo entender o que precisa ser melhorado para reduzir morbimortalidade por câncer; identificar estratégias com resultados concretos para prevenção e tratamento efetivo da DCNT; e planejar programas e políticas de saúde que possam reconstruir melhor os sistemas e ambientes públicos e privados para prevenir, diagnosticar e tratar neoplasias.
Participaram do encontro Dr. Mark Barone, coordenador do Fórum, Sr. Antônio Silva (Roche), Sra. Nayara Landim (TJCC), Sra. Marília Albiero (ACT Promoção da Saúde), Dra. Leticia Katz (SES-PE), Dr. Augusto Mota (SBOC), Dra. Maria Braghiroli, (ICESP) e Dra. Patrícia Izetti (SAPS-MS). Na abertura do painel, Dr. Mark Barone citou os fatores de risco para o desenvolvimento de DCNTs, sobretudo o câncer. “Uma pessoa com diabetes tem risco maior de desenvolver alguns tipos de câncer”. Dentre as doenças crônicas motivadas pelas mortes precoces, o câncer representa 18,85%.
Sr. Antônio Silva destacou que a preocupação da Roche, é buscar soluções para que o sistema de saúde seja mais sustentável, detectando doenças mais precocemente e permitir que o tratamento seja destinado àqueles que precisam.
Já a Sra. Nayara Landim, do movimento Todos Juntos Contra o Câncer, contou que a organização está fazendo uma pesquisa com pessoas que vivem com câncer. Segundo ela, um a cada quatro pacientes ainda sofrem com os impactos da pandemia para fazer seu tratamento. O estudo também apontou a desaceleração de gastos com procedimento cirúrgico oncológico no período da pandemia. “Precisamos de soluções estruturais no sistema de saúde e ações rápidas e coordenadas para mitigar o impacto de médio prazo na oncologia”.
Após a abertura, a Sra. Marília Albiero, ACT Promoção da Saúde, explicou que os 20 tipos de câncer perpassam fatores de risco, entre eles estão a obesidade, inatividade física, alcoolismo, tabagismo e má alimentação. “Tabagismo ainda é a principal causa dos novos casos de câncer no Brasil”, explica. Segundo ela, as políticas públicas contra o tabagismo foram as que mais avançaram, no entanto, a “indústria do tabaco cria novos produtos e traz impactos grandes”. Na ocasião, a Sra. Albiero fez o lançamento da nota técnica "Câncer, é possível eliminar fatores de risco".
Albiero diz que é necessário ter um conjunto de políticas públicas para que os fatores de riscos sejam mitigados em nossa sociedade. Entre os exemplos que apontam a ausência de boa políticas está o fato de a comida saudável tem um valor superior que os ultraprocessados em nossa sociedade, o que se transforma em um obstáculo para estilos de vidas mais saudáveis.
Já a Dra. Leticia Katz, da Secretaria Estadual da Saúde de Pernambuco, destacou a importância da atenção primária para a prevenção da detecção do câncer e o trabalho em seu estado. Ela explicou que Pernambuco fez um plano de retomada da prevenção e detecção do câncer de colo e de mama em julho de 2020. “Fazemos o rastreio organizado das mulheres cadastradas no sistema de saúde”. O trabalho da secretaria é orientar os profissionais da saúde e fornecer informações da situação das mulheres do estado, dando prioridade aos casos mais graves.
Dr. Augusto Mota, SBOC, trouxe para o evento uma perspectiva jurídica sobre a temática. Segundo ele, acórdãos do TCU apontam que não houve avanços na temática oncológica. Ele destacou a importância de descentralizar o atendimento oncológico. Para ele, casos mais simples deveriam ser tratados em centros menores e os mais complexos serem encaminhados para centros maiores.
A Dra. Maria Braghiroli, do ICESP, aponta que os pacientes se apresentam quando estão em estágios mais avançados do câncer e isso piorou com a pandemia, pela dificuldade ao acesso a consultas, os exames necessários para um diagnóstico complexo.
Dra. Patrícia Izetti, do SAPS do Ministério da Saúde, falou como a atenção primária tem se organizado para se integrar com a especializada no diagnóstico precoce e tratamento de câncer no Brasil. Segundo ela, a aplicação de doses da vacina do HPV, que previne o câncer do colo de útero, tem sido bom mesmo durante a pandemia no país.
O mesmo, porém, não se pode dizer dos exames. Patrícia disse que houve redução de 42,6% de atendimentos para rastreamento do câncer de colo de útero e 48,7% em relação ao câncer de mama. Segundo ela, o Ministério da Saúde destinou dinheiro para que os municípios promovam iniciativas para que as mulheres busquem fazer os exames de prevenção e detecção.
Na última parte do encontro, os painelistas foram convidados a responderem perguntas e fazerem suas considerações finais.
Questionada sobre a importância da busca por uma segunda opinião médica nos casos de câncer, Dr. Augusto Mota, afirmou ser válida essa procura, porém destacou a importância de refletir sobre o problema que se enfrenta para conseguir realizar o diagnóstico no país. “Do número estimado de biópsias para detectar câncer de próstata só 4% é feito. Como queremos pensar em lapidar e melhorar a esfera terapêutica se temos tamanho gargalo do diagnóstico?”, questionou.
Dra. Leticia Katz, da SES-PE, também focou na importância do diagnóstico e do acompanhamento para oferecer um tratamento adequado às pacientes. “Se você chama a mulher, diagnostica e não trata, você estressa o sistema. Por isso é importante capacitar os médicos no tratamento das lesões”. Segundo ela, há inúmeros casos no estados de mulheres com câncer do colo de útero que não deram prosseguimento ao tratamento e que o rastreamento delas é fundamental.
Já Dra. Maria Braghiroli, ICESP, lembrou que no casos de alguns câncer, o diagnóstico pode ser bastante difícil e complexo, necessitando de muitos exames e profissionais capacitados para a detecção.
Ainda durante o debate, a Dra. Patrícia Izetti, representante do Ministério da Saúde, destacou a necessidade de alterar a forma de trabalho no atendimento primário. Se nesse primeiro atendimento o foco estava em não pedir exames que pareciam ser desnecessários, agora é importante treinar profissionais a pedir exames para não atrasar tratamentos dos eventuais diagnósticos de câncer.
Questionada por um participante do evento sobre como a tributação no país pode contribuir para a melhoria da saúde, a Sra. Nayara Landim, do TJCC, afirmou que estamos em um momento que é preciso vigiar para não haver retrocessos. Segundo ela, há riscos de o custo de medicamentos, incluindo os oncológicos, aumentarem com a reforma tributária debatida no Congresso.
Na mesma linha, a Sra. Marília Albiero, do ACT, destacou que “vivemos um mau uso das nossas escolhas fiscais”. Segundo ela, o Brasil não só não tributa, como desonera produtos não saudáveis.
Já o Sr. Antônio Silva, da Roche, lembrou que o sistema de saúde requer sustentabilidade e convidou o poder público e privado a olhar para casos que funcionam bem no país ou no mundo e amplificar para outras regiões. “Iniciativa privada pode trabalhar de mãos dados com o setor público para avançar. O diagnóstico é o que faz a diferença na vida das pessoas e esse tem que ser o esforço coletivo.”
Comments