O Dr. Ronaldo Wieselberg, Membro da Comissão Consultiva do Fórum Intersetorial para Combate às DCNTs no Brasil (FórumDCNTs), Professor na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e Vice-Presidente da ADJ Diabetes Brasil, concedeu entrevista para o Programa Thathi Cidade, da TV Thathi Ribeirão Preto, importante veículo de imprensa paulista. A temática foi o câncer de mama, como identificar, diagnosticar e tratar oportunamente as pessoas com alto risco para desenvolvê-lo.
A entrevista abordou o câncer mais incidente entre as mulheres no Brasil. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), são 73.610 casos no último estudo anual divulgado, seguida pela incidência de câncer de cólon e reto (23.660 casos) e câncer de colo do útero (17.010 casos). Soma-se a esse impactante fato a quantidade de mortes por câncer de mama que seguem em crescimento. Em 1993, o Brasil ultrapassou a marca de 10 mil mortes por câncer de mama, enquanto no ano de 2019 esse número já atingia cerca de 20 mil vidas perdidas pela condição, algo que poderia ser diagnosticado precocemente, com o tratamento adequado e ajustado para cada pessoa.
Durante a conversa, foram abordados temas como a iniciativa do INCA em elaborar um documento técnico orientador, não como uma diretriz, mas uma ideia inicial para avançar nos cuidados para qualificar a atenção às mulheres com alto risco de câncer de mama; a importância do diagnóstico precoce, como fazer o rastreio e o autoexame; e como fortalecer o Sistema Único de Saúde (SUS) para aumentar ainda mais os cuidados para com a condição.
O FórumDCNTs fez esse alerta sobre a importância do diagnóstico precoce do câncer de mama?
Dr. Ronaldo Wieselberg
Sim, em agosto tivemos um evento para falar da importância do rastreio para alguns tipos de cânceres, principalmente o câncer de mama. Sabemos que mulheres entre 50 e 69 anos têm que ser rastreada com mamografia a cada dois anos, ou até menos a depender dos achados do exame. Um dado alarmante é que apenas 20% das mulheres do Brasil são rastreadas, quando o ideal deveria ser 70%, isso faz com que, infelizmente, descubrirmos boa parte dos casos em estágio avançado e nesse caso a chance de cura diminui bastante.
Inclusive o assunto é amplamente debatido pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA)...
Dr. Ronaldo Wieselberg
Sim, neste momento o INCA faz uma sequência de diretrizes para o rastreio de câncer de mama para facilitar o rastreio e melhorar a saúde da população.
Por que o diagnóstico precoce é muito importante para esta condição?
Dr. Ronaldo Wieselberg
Sabemos que o câncer de mama muitas vezes começa com um nódulo isolado na mama da mulher e, caso não seja tratado, esse câncer pode crescer, pode ter a necessidade de uma cirurgia maior, ele pode ter a metástase com linfonodos, os nódulos linfáticos, passar para o fígado, sistema nervoso central, cérebro. Quanto mais tempo perdemos sem o diagnóstico e tratamento, maiores as chances de mortalidade.
No SUS, a rede pública de saúde do Brasil, ainda há uma grande demora para sair o diagnóstico completo do câncer, não é mesmo?
Dr. Ronaldo Wieselberg
Infelizmente temos um número reduzido de mamógrafos e as filas das pessoas que aguardam a mamografia acaba sendo grande, então o autoexame é importante, as mulheres tem que fazer, apalpar a mama para perceber algum nódulo. Muitas vezes esse nódulo pode não ser um câncer, mas nesse caso é muito mais interessante pecar pelo acesso do que ficar aguardando.
Há meios de a gente acelerar esse diagnóstico precoce?
Dr. Ronaldo Wieselberg
Temos que fazer o rastreio, pegar as populações com algum risco, como mulheres que já tiveram radioterapia cervical ou na região do peito; mulheres entre 50 e 69 anos, que teoricamente não desenvolveram um câncer, mas estão na idade de desenvolver, são aquelas que têm que passar pelo rastreio, para pegarmos antes disso. Qualquer coisa feita depois já estamos perdendo tempo.
De acordo com algumas informações, apenas em 2023 mais de 73 mil novos casos podem ser diagnosticados no Brasil, um número muito alto...
Dr. Ronaldo Wieselberg
Sim, ele é o câncer mais frequente na população feminina. E desses casos, dos 60 mil casos que surgiram em 2022, 17% poderiam ser evitados por hábitos de vida saudáveis com a pratica de atividade física, redução de peso, na diminuição do consumo de alimentos ultraprocessados, diminuição do consumo de carboidratos, porque o aumento da gordura aumenta o risco de desenvolvimento do câncer de mama.
Os exames preventivos devem ser feitos a partir de que idade nas mulheres?
Dr. Ronaldo Wieselberg
A partir dos 50 anos, mas vamos pensar antes disso a depender de alguns fatores, como se a pessoa já passou por radioterapia antes dos 36 anos, se ela tem histórico familiar positivo para câncer de mama, algumas mutações genéticas bastante específicas, aí sim é importante saber o histórico familiar.
Vale a pena ressaltar, como na hora do banho, que as mulheres possam apalpar suas mamas, e se sentir algo diferente, procurar rapidamente um médico...
Dr. Ronaldo Wieselberg
Não apenas o toque abaixo da mama, mas quando passa a mão a partir do mamilo, em espiral, saindo até a parte mais externa da mama, isso evita qualquer tipo de problema de não ter apalpado em algum lugar.
Além de detectar algum "caroço" na mama, qual outro diagnóstico que a mulher pode fazer para prevenir e procurar um especialista?
Dr. Ronaldo Wieselberg
Vale pensarmos nos fatores de risco que podem ser prevenidos como a obesidade, por exemplo, um dos maiores fatores de risco para o câncer de mama.
É fundamental que o Ministério da Saúde agilize um trabalho nacional de prevenção, até porque a maioria da população depende do SUS...
Dr. Ronaldo Wieselberg
Com certeza, é importante lutar pelos direitos no SUS e que fortaleça o sistema, porque muita gente não terá acesso ao sistema saúde suplementar e, nesse caso, o SUS conta om o tratamento oncológico bem feito e é necessário fortalecer essa parte do nosso sistema de saúde.
Trecho retirado do Programa Thathi Cidade, edição 14/09/2023. Assista na íntegra.
Confira a cobertura completa do evento: Câncer de Mama: Diagnóstico e Prevenção em Pessoas com Alto Risco
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