Materiais orientam profissionais de saúde e população sobre a relação entre sono e doenças crônicas não transmissíveis, bem como acerca do calendário especial de vacinação para pessoas com essas condições
O Fórum Intersetorial para Combate às Doenças Crônicas não Transmissíveis no Brasil (FórumDCNTs) disponibiliza materiais educativos sobre distúrbios do sono e vacinas para profissionais de saúde e população em geral. Os guias trazem, em linguagem adequada para cada público, informações científicas e orientações práticas essenciais para a prevenção e o controle da maioria das doenças e condições crônicas não transmissíveis (DCNTs/CCNTs), como câncer, diabetes, obesidade, doenças cardiovasculares e respiratórias.
A imunização salva milhões de vidas anualmente em todo o planeta, aumenta a expectativa de vida e melhora sua qualidade. Ela foi responsável pelo feito inédito de erradicação de uma doença infecciosa, a varíola humana, em 1980. Entretanto, testemunhamos o declínio das coberturas vacinais na maioria dos países na última década.
Doenças imunopreveníveis, cuja incidência foi controlada pelas vacinas, como sarampo e poliomielite, passaram a crescer em número de casos e mortes no mundo. Em 2022, o Brasil foi classificado pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) como um dos quatro países das Américas com risco muito alto de retorno da paralisia infantil. Notícias falsas, desinformação e movimentos antivacinas confundem a população e levam à hesitação vacinal, a qual foi incluída pela Organização Mundial de Saúde, em 2019, na lista das dez ameaças globais à saúde.
Apesar desse cenário prejudicar todos os indivíduos e faixas etárias, ele é mais crítico para populações com maior vulnerabilidade à infecção e/ou complicações por doenças preveníveis com vacinas, entre elas as pessoas com CCNTs. Existe um calendário de vacinas adicionais para esses grupos populacionais, que podem receber grande parte desses imunizantes gratuitamente nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais. Porém, a maioria das pessoas com CCNTs e muitos profissionais de saúde não sabem disso.
Devido ao determinante papel desses profissionais para diminuir a relutância das pessoas quanto à vacinação, especialistas do FórumDCNTs desenvolveram o e-book "Com vacinas protejo vidas!". "Quando se trata de imunização, os conselheiros e influenciadores mais confiáveis para as pessoas ainda são os profissionais de saúde, particularmente os que atuam em comunidades específicas", lembra Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações. Para a população em geral, o FórumDCNTs preparou o livro digital "Com vacinas escolho saúde!", que contém informações úteis para todas as pessoas, com ênfase àquelas que apresentam CCNTs. "Nosso objetivo é contribuir para que o país alcance suas metas de cobertura vacinal, bem como para a redução, entre as pessoas com CCNTs, das internações e da morbimortalidade por doenças infecciosas evitáveis", expõe Mark Barone, coordenador do FórumDCNTs.
A correlação entre sono e doenças crônicas não transmissíveis
Outro material educativo lançado pelo FórumDCNTs é o guia "Impacto dos distúrbios do sono sobre diabetes, obesidade, doenças cardiovasculares e outras CCNTS", o qual fornece conhecimentos fundamentais sobre o tema aos profissionais e gestores da área da saúde.
Embora estejam entre as queixas clínicas mais comuns quando investigados, os sintomas dos distúrbios do sono não são espontaneamente referidos pelas pessoas durante consultas. Portanto, é crucial que os profissionais de saúde sejam proativos e incluam perguntas sobre o sono durante anamneses e check-ups. Porém, isso raramente acontece. "Como resultado, os distúrbios do sono permanecem invisíveis enquanto interferem cumulativamente no funcionamento físico, mental, social e emocional de milhões de pessoas não diagnosticadas ou tratadas", constata Geraldo Lorenzi Filho, fundador e diretor do Laboratório do Sono do Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
Com os maiores índices de ansiedade do mundo, de acordo com a literatura científica nacional e internacional, o Brasil está incluído, não por acaso, entre aqueles em que menos se dorme. Cerca de 15% da população adulta brasileira sofre de insônia que, por sua vez, é um dos fatores de risco para o desenvolvimento de transtorno de ansiedade generalizada, depressão e outras CCNTs/DCNTs como hipertensão, cardiopatias, diabetes e obesidade.
A síndrome de apneia obstrutiva, distúrbio do sono mais prevalente no país, afeta 27 milhões de brasileiros, pouco mais de um terço da população. Da mesma forma que a insônia, a apneia aumenta o risco de desenvolvimento e agrava DCNTs/CCNTs pré-existentes. No Brasil, há uma associação importante entre apneia e doenças cardiovasculares como insuficiência cardíaca, doença arterial coronariana, fibrilação atrial e acidente vascular cerebral (AVC).
"O profissional de saúde deve ter em mente que esta é uma via de mão dupla, ou seja, as condições e doenças crônicas, quando não estão bem administradas, aumentam os riscos de aparecimento ou exacerbação de distúrbios do sono. São exemplos a ocorrência de despertares noturnos para micção em indivíduos com hiperglicemia e o agravamento da apneia com o ganho de peso", explica Luciano Ferreira Drager, presidente da Associação Brasileira do Sono. "Nosso compromisso, com a produção e divulgação desse material, é promover a valorização do sono como uma fase de extrema relevância para a saúde e bem-estar de todos. Muitos distúrbios do sono são, em si, CCNTs que devem ser adequadamente gerenciadas pelas equipes de saúde", alerta.
Mais informações em: https://www.forumdcnts.org/
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