Na semana passada, o FórumCCNTs acompanhou in loco o maior congresso de diabetes do mundo, promovido pela European Association for the Study of Diabetes (EASD). Em Madrid e com mais de 10 mil participantes, o Dr. Mark Barone, Coordenador-geral do FórumCCNTs, participou como membro do grupo com 25 ativistas de diabetes de diferentes países, o #dedoc° voices. Além do compartilhamento das experiências do FórumCCNTs e do Brasil em diabetes, Dr. Barone teve a oportunidade de interagir com especialistas internacionais que citamos regularmente, e aprender muito com a experiência de ativistas e cientistas de outros países.
A evolução tecnológica apresentada na própria feira de exibição de produtos impressionava. Eram incontáveis os estandes de diferentes marcas de sensores de glicose. Alguns que contaram, chegaram ao número 15, mas talvez não tenham contabilizado algum. Ao conversarmos com os expositores, ficamos sabendo que algumas marcas ainda desconhecidas já estão em processo de cadastro na ANVISA. Não raro, membros da comunidade com diabetes testavam mais de um sensor simultaneamente durante o evento. Salih Hendricks, da África do Sul, estava com um dos sensores de marca tradicional em um dos braços, e outro sensor recém-chegado ao seu país no outro. O relato dele era: "os resultados são muito próximos".
A maioria das apresentações sobre tecnologias trazia bons resultados dos sistemas híbridos de pâncreas artificial, com diferentes bombas e algoritmos, mas sempre com alguns dos sensores das empresas mais conhecidas, Abbott, Dexcom e Medtronic. Entre as apresentações, uma do Dr. Tadej Batelino, apresentando bons resultados do sistema 780 em uso com crianças bem pequenas (faixa etária para a qual ainda não há aprovação). Apresentações também pelo Dr. Batelino e outros palestrantes trouxeram evidências tanto clínicas quanto econômicas para a adoção de monitoramento contínuo de glicose com sensor para pessoas com diabetes tipo 2.
Dois destaques, ainda sobre tecnologia, foram o lançamento do sensor de glicose da empresa Roche, de nome Accu-Chek SmartGuide, e o estudo dos equipamentos Point-of-Care pela entidade FIND. Surpreendentemente, neste estudo apenas com equipamentos validados e certificados por entidades internacionais, de dez, apenas três apresentaram resultados aceitáveis.
Em relação ao acesso aos cuidados a desigualdade entre os países continua imensa. Enquanto em países europeus, como Alemanha, França, Suécia e outros o acesso é pleno ao que há de mais moderno, incluindo sistemas híbridos, com bomba e sensor, insulinas e outros medicamentos, em países como Paquistão o acesso é limitado e rotineiramente morrem crianças sem acesso ao básico para seus autocuidados.
Para completar esse cenário, Dr. Thomas Danne, da Breakthough T1D, apresentou dados globais de que menos de 10% das pessoas com diabetes tipo 1 (DM1), no mundo, têm acesso às últimas tecnologias, 30% têm acesso ao mínimo – insulina humana e 1 a 2 testes ao dia, e 10-15% das pessoas com DM1 não tem acesso a nada.
Por último, um dos temas mais discutidos no congresso e pelos participantes do #dedoc° voices, saúde mental e estigma em pessoas com diabetes. Entre os palestrantes, os renomados Profa. Jane Speight e Matthew Garza. Enquanto a Profa. Speight, a maior especialista global em pesquisas sobre "Linguagem Importa" em diabetes, trouxe uma profunda reflexão sobre não esquecer do que é relevante para a pessoa com diabetes além da saúde. Segundo ela, mesmo o potencial das tecnologias mais atuais acaba não se evidenciando, quando questões que refletem na qualidade de vida da pessoa são deixadas de lado. Matthew apresentou os alarmantes resultados de que 4 em cada 5 pessoas com diabetes já sofreram estigma, e que 35% das pessoas com DM1 nos EUA não gostam de ter algo preso ao corpo (bomba e/ou sensor).
Ainda sobre estigma, apendemos com participantes do #dedoc° voices que têm diabetes o impacto do estigma sobre a saúde mental deles. Em um momento muito emocionante, ao final da sessão da Profa. Speight e do Matthew, Mark Tiller, um #dedoc° voice com diabetes tipo 2 do Reino Unido, relatou seu sofrimento com o estigma e preconceito sofrido através da fala de pessoas com diabetes tipo 1, dando a entender que o diabetes tipo 1 é inevitável e, portanto, culpabilizando pessoas com o tipo 2. Ele revelou, ainda, que tanto profissionais de saúde quanto autoridade de saúde prejulgam que pessoas com tipo 2 não se beneficiariam com o acesso a novas tecnologias, enquanto não só vimos apresentações opostas a isso no congresso, como ele mesmo revelou queda de 2,4% em sua hemoglobina glicada ao começar a usar sensor de glicose.
Para concluir, não podemos deixar de mencionar que o Dr. Mark Barone foi agraciado na ocasião, pelas entidades Children with Diabetes e Insulin For Life, com uma medalha por sua jornada com CCNTs e de 25 anos trabalhando com diabetes.
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