Na última sexta-feira (03/12), às 16h, o FórumDCNTs promoveu seu último painel do ano de 2021 cujo tema foi “Doenças Respiratórias no Pós-COVID-19: Ações para Retomar o Controle”. O evento teve como objetivos entender como a pandemia interrompeu os cuidados e estratégias de prevenção em relação a doenças respiratórias no Brasil; debater sobre como potencializar a Atenção Primária da Saúde para que reorganize o fluxo, estabeleça prioridades e implemente ações efetivas para mitigar os impactos do longo período de cuidados interrompidos; e engajar os setores público, privado e terceiro setor em esforços multisetoriais para implementação de modelos com potencial para identificar novos casos de DPOC, asma e brecar a piora da saúde de pessoas já acometidas. Participaram do encontro Dr. Mark Barone, coordenador do FórumDCNTs, Sr. Alessandro Chagas (CONASEMS), Sr. Diogo Alves (OPAS/OMS), Sr. Gustavo San Martin (AME/CDD), Sra. Hannah Domingos (Ministério da Saúde), Sr. Paulo Fascina (Boehringer Ingelheim), Dr. Pedro Westphalen (deputado federal) e Sra. Sandra Sabino (SMS-SP).
Na abertura do painel, o Dr. Mark Barone iniciou sua fala lembrando que a DPOC é o quarto maior motivo de morte no Brasil. 17% dos adultos do país têm essa condição que causa mais de 3,23 milhões de mortes ao ano. A asma é outra condição que afeta inclusive crianças. Segundo o presidente do FórumDCNTs, 20 milhões de pessoas sofrem com essa condição, o que ocasiona 350 mil internações por ano no país. Sr. Paulo Fascina (Boehringer Ingelheim) citou um levantamento recente no Conselho Nacional de Medicina que mostra que, durante a pandemia, o sistema de saúde deixou de fazer 16 milhões de exames de diagnóstico e que é preciso ficar atento a esse “gap” para os próximos anos. “Temos de um lado um esforço de melhora de qualidade no sistema de saúde, mas do outro lado um subdiagnóstico daqueles que estão na Atenção Primária”. Já o Sr. Gustavo San Martin (AME/CDD), que representa as pessoas que vivem com a condição, destacou o fato das pessoas não diagnosticadas. “Há desafios estruturais sobre a forma como tratamos as doenças respiratórias” apontando o que são as condições e como elas precisam ser informadas às pessoas.
Dentre os representantes do poder executivo, a Sra. Sandra Sabino, da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo falou do projeto “Abraçar”, da prefeitura, elaborado em parceria com a Boehringer Ingelheim. De acordo com ela, o projeto possibilitou que a capital paulista conseguisse aumentar a oferta de exames que diagnosticam condições respiratórias. Sabino falou ainda que das pessoas com sequelas da Covid-19 no sistema municipal de saúde, 25% dos casos estão relacionados com condições respiratórias. O painelista Sr. Diogo Alves, da OPAS/OMS, falou as recomendações que a OMS dá diante da pandemia e ferramentas que profissionais da saúde podem consultar e utilizar. Ele citou o Plano Global de Doenças Crônicas, levado para a Agenda 2030, que monitora a progressão da DPOCs e o Pacote Reabilitação 2030. Alves fez questão de destacar que um dos fatores de risco para a DPOCs é a poluição. Por conta da crise energética, a matriz para as pessoas se aquecerem ou cozinhar são a biomassa, que afeta muito a qualidade de ar da população. O Sr. Alessandro Chagas (CONASEMS), por sua vez, destacou o problema fundamental para desenvolver uma política pública eficaz: a falta de dados. “A área de saúde precisa de informação robusta para encarar as doenças de maneira melhor”. Segundo ele, é importante construir rede no SUS, o que não é fácil, porque precisa de planejamento, organização, interseccionalidade e solidariedade. “Hoje não temos uma rede dessas em relação às doenças respiratórias.”
O representante do poder legislativo, o deputado federal Dr. Pedro Westphalen em sua breve fala disse que é necessário antes de qualquer coisa ouvir as pessoas e entender quais as dificuldades que elas enfrentam. “Não existe uma política pública que dê aos pacientes o acesso à tecnologia que foque no diagnóstico e tratamento. É preciso fazer um treinamento para fazer o diagnóstico correto e o Parlamento estará em cima dessa demanda”. Recentemente, o parlamentar criou a Frente Parlamentar de Doenças Pulmonares Graves no Congresso. A última a falar antes do debate, foi a representante do Ministério da Saúde, a Sra. Hannah Domingos. Ela contou que a pasta desenvolveu neste ano o programa de Tele-espirometria, que visa tornar mais acessível, dentro da Atenção Primária, exames ofertados para diagnósticos de DPOCs.
De acordo com Domingos, o Ministério da Saúde oferta o aparelho e a capacitação dos profissionais, dentro do projeto. “Estamos abertos para a adesão de mais municípios. "Temos 25 vagas ainda", informou que os municípios podem pleitear participação através do e-mail (cgctab@saude.gov.br). O programa já ofereceu o equipamento e treinamento para mais de cem cidades. No debate, o Dr. Mark Barone perguntou ao Sr. Gustavo San Martin (AME/CDD) sobre ações de prevenção a doenças respiratórias. San Martin iniciou sua fala dizendo que costumeiramente associamos saúde à ausência de doença e isso é um problema. “É preciso desconstruir a cultura de que a saúde é ausência de doença. E a desconstrução passa pela educação”. Segundo ele, o desafio é começar a trabalhar a expectativa de médio a longo prazo na saúde pública. “A educação em saúde deveria ser uma política de Estado e não uma política de governo. Temos informações controversas sobre o que é prioritário. O cidadão brasileiro precisa ser parte responsável do diagnóstico e só a educação em saúde resolve isso.” Corroborando com Martin, o Sr. Diogo Alves (OPAS-OMS) falou da necessidade de letramento em saúde. “A população consome informação de outra maneira hoje. É preciso usar a mídia social, fazer vídeo curto para alcançá-la". Na OPAS, diz Alves, foram feitas campanhas com desenhos animados para chegar a informação à nossa população alvo, “Precisamos trabalhar a saúde com a parte da informação e nos adequar, trabalhando as ferramentas”.
Já o Sr. Paulo Fascina (Boehringer Ingelheim) destacou, durante o debate, a necessidade de integração e parcerias para ampliar iniciativas como o Abraça, da prefeitura de São Paulo, e o programa Tele-Espirometria, do Ministério da Saúde. “Estamos muito abertos à discussão e quem quiser aprofundar em ter o apoio da Boehringer o canal está sempre aberto seja no setor público ou provado”. A Sra. Sandra Sabino (SMS-SP), ao ser questionada sobre quais seriam os novos desafios após resolver o problema de diagnóstico de doenças respiratórias, afirmou que o Sistema de Saúde precisa começar a buscar de forma ativa a pessoa que vive com a condição e oferecer um acompanhamento constante e não apenas em momentos de crise.
Nas considerações finais, Sr. Diogo Alves afirmou que a OPAS-OMS tem o papel de fazer a ponte e oferecer o planejamento para os países. O Sr. Gustavo San Martin, por sua vez, finalizou sua fala dizendo que de sua parte é importante conversar com as pessoas que vivem com a condição, pensando em suas condições e necessidades, transformando-os em comunicadores de políticas públicas. A Sra. Sandra Sabino, por sua vez, conclui dizendo que a pandemia trouxe coisas ruins, porém alertas também, entre elas o foco nas doenças respiratórias. “Fica um alerta para todas as secretarias e o Ministério de pensar em um programa nacional de combate, controle e monitoramento dos pacientes”.
O Sr. Alessandro Chagas focou sua fala na importância da intersetorialidade e parceria. Já o Sr. Paulo Fascina terminou sua participação no evento dizendo que o compromisso da Boehringer é estar à disposição de colegas e diferentes setores para auxiliar nos exames de espirometria a partir de projetos e parcerias. Por fim, o Dr. Mark Barone terminou o evento fazendo uma balanço dos painéis oferecidos pelo FórumDCNTs a partir dos compromissos assumidos.
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