Por Mark Barone, PhD
A pandemia do novo coronavírus, COVID-19, pegou todo o mundo de surpresa e está testando a capacidade dos sistemas de saúde e organização dos governos para agir com medidas eficazes a tempo. No Brasil não é diferente. Quanto às orientações gerais, que são as mesmas para populações com doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs), ninguém mais tem dúvida: lavar bem as mãos e usar álcool gel 70° frequentemente, manter distância física de outras pessoas, cobrir boca e nariz com o braço ou lenço ao espirrar ou tossir e se manter em casa.
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Ao mesmo tempo, cuidados específicos para populações com DCNTs nem sempre são apresentados de forma clara. Apesar de muito estar se aprendendo durante a pandemia e, por isso, de novas informações e orientações surgirem a cada dia, já é possível tirar algumas conclusões.
Em relação às DCNTs há dois aspectos principais. O primeiro deles diz respeito ao maior risco de contágio ou infecção dessas populações, pelo fato de algumas delas estarem mais imunodeprimidas, especialmente quando em uso de determinados medicamentos ou quando em estado metabólico fora dos limites preconizados (hiperglicemia, hipertensão, dislipidemia, etc.). O segundo, observado nos países onde a pandemia já atingiu seu pico, é um prognóstico pior ou maior severidade da COVID-19 em pessoas com DCNTs. Entende-se que a razão para isso seja tanto o mesmo motivo descrito acima, maior imunodepressão nessas populações, que, por isso, combatem com mais dificuldade a infecção pelo coronavírus, quanto pelo fato de o COVID-19 exacerbar e dificultar o controle metabólico e manejo adequado de condições crônicas preexistentes, como doença cardiovascular, câncer, doenças do trato respiratório, diabetes, e suas complicações.
"Em um relatório da OMS sobre surto da China, a taxa de letalidade em pessoas sem comorbidades foi de 1,4%, mas em grande parte aumentou nos grupos com estas condições:
Doenças cardiovasculares: 13,2%
Diabetes: 9,2%
Hipertensão: 8,4%
Doença respiratória crônica: 8,0%
Câncer: 7,6%"*
Fonte do gráfico: www.bbc.com/portuguese/brasil-51673933
É importante verificar, contudo, que a maioria dos casos mais graves, e que levaram a óbito, estiveram associados também à faixa etária maior que 60 anos. Portanto, efeitos somados da idade mais avançada com presença de condições crônicas (especialmente quando mal gerenciadas e fora dos parâmetros preconizados), parecem ser o principal fator para aumentar a severidade da infecção. Por esse motivo, a Associação Americana de Diabetes (ADA), por exemplo, admite que "em geral, as pessoas com diabetes têm mais probabilidade de apresentar sintomas e complicações graves quando infectadas com um vírus", contudo, pondera que "se o diabetes for bem gerenciado, o risco de ficar gravemente doente com o COVID-19 é quase o mesmo que da população em geral".
ORIENTAÇÕES E CUIDADOS ESPECÍFICOS PARA GRUPOS COM DCNTs
Os cuidados a serem tomados devem ser os mesmos já orientados para toda a população. A diferença é, por se tratarem de grupos de risco, as medidas devem ser levadas "ao pé da letra". Incluindo, em especial, as difíceis medidas de distanciamento físico de outras pessoas, manter-se em casa todo o tempo durante a pandemia e priorizar o uso de serviços delivery ou favor de conhecidos e vizinhos para compras no mercado, farmácia e padaria.
Assista aqui vídeo com orientações em relação a pessoas com diabetes
durante pandemia COVID-19, úteis para outras DCNTs (em inglês)
Outra orientação fundamental é não deixar os cuidados da condição crônica de lado, muito pelo contrário. Conforme alertado pela ADA, o manejo adequado da DCNT reduz os riscos a níveis próximos ao de quem não tem a condição, com:
uso de medicamentos conforme prescrito;
alimentação saudável e hidratação;
especialmente para casos de diabetes e hipertensão, aumento da frequência de monitorização.
Durante a pandemia é importante também que as pessoas entrem em contato com os profissionais de saúde que a acompanham caso precisem de alguma orientação, seja para ajuste de doses e horário de medicação, devido à rotina alterada, seja para orientações caso desconfiem que possam estar infectadas pelo coronavírus. Este último ponto é especialmente importante, visto que a ida ao pronto-atendimento, pronto-socorro ou UPA deve ser priorizada para casos de real necessidade; e os profissionais de saúde que acompanham cada um são aliados para identificar quando é o caso.
Por último, mas não menos importante, pessoas com DCNTs têm maior risco de apresentar depressão e ansiedade. Especialmente durante a pandemia, o isolamento social, as notícias negativas, o impacto sobre as finanças pessoais e incertezas sobre o futuro aumentam os riscos para desenvolvimento ou agravamento dessas condições em toda a população e, ainda mais nas pessoas com DCNTs. Portanto, é recomendável tanto medidas preventivas com a prática de atividades físicas, jogos com familiares que habitam a mesma casa, ligação com vídeo para amigos e parentes, relaxamento e meditação guiada, assim como eventuais intervenções psicológicas ou psicofarmacológicas por profissionais de saúde especializados.
IMPORTANTES MEDIDAS JÁ ANUNCIADAS PELO GOVERNO BRASILEIRO
A fim de reduzir o trânsito de pessoas, especialmente aquelas que têm alguma doença crônica, pelas ruas, farmácias e unidades de saúde, o governo federal e governos estaduais já estabeleceram que os medicamentos e insumos para tratamento e gerenciamento das DCNTs serão entregues na quantidade suficiente para 3 meses. É importante destacar que essa medida preventiva vai ao encontro do que há muitos anos especialistas em saúde pública recomendam ao governo brasileiro, que por exigir retirada mensal de medicamentos para doenças crônicas favorece a não adesão ao tratamento, além de um mecanismo burocrático que ocupa seus médicos, especialmente do setor público, em reservar períodos semanais sem atendimento, "renovando receitas", para que pessoas com doenças crônicas retirem mensalmente essas receitas nos postos de saúde e, então, possam receber seus remédios e insumos. Portanto, esperamos que após a pandemia o governo mantenha essa rotina mais inteligente de retirada a cada 3 meses.
Referências Adicionais
*Resumo pela World Heart Federation do que já em conhecido sobre COVID-19 em pessoas com DCNTs (disponível também em portugues): www.world-heart-federation.org/covid-19-and-cvd/
- Thienemann F, Pinto F, Grobbee DE, Boehm M, Bazargani N, Ge J, et al.. World Heart Federation Briefing on Prevention: Coronavirus Disease 2019 (COVID-19) in low-income countries. Global Heart. 2020;15(1):23. DOI: http://doi.org/10.5334/gh.778
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