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Tratamento Integral do Câncer: Dor Oncológica e Saúde Mental - Cobertura do Evento 05/08/2022

Importância do diagnóstico precoce e do acolhimento foram alguns dos aspectos abordados no debate para reduzir o sofrimento


O Fórum DCNTs realizou no dia 05 de agosto o evento interativo Tratamento Integral do Câncer: Dor Oncológica e Saúde Mental e reuniu diversos profissionais de saúde para debater a importância dos aspectos físicos, psicológicos e sociais do tratamento das neoplasias. Transmitido ao vivo pelo Facebook e pela plataforma Zoom, o evento propôs modelos de cuidado integral da pessoa com câncer e estratégias que envolvam os órgãos públicos, privados e terceiro setor na implementação e melhoria de programas e políticas para essa condição. (Confira todos os vídeos do Evento aqui).


O coordenador geral do Fórum DCNTs, Dr. Mark Barone, apresentou um panorama sobre a relevância do câncer no Brasil, uma das doenças crônicas não transmissíveis de maior impacto. “As neoplasias são responsáveis por quase 19% das mortes no Brasil, atrás apenas das doenças cardiovasculares (DCV). Existem estudos indicando que o câncer irá ultrapassar as DCV em número de mortes, inclusive em alguns países isso já acontece. Por isso, precisamos prestar atenção nesta doença que é muito prevalente e leva a consequências que muitas vezes poderiam ser evitadas se fossem tratadas adequadamente”, declarou.


Em relação à saúde mental, o câncer também causa um impacto imenso. Um terço das pessoas com câncer sofrem alterações de saúde mental, segundo dados da Melanoma UK, e, mesmo após a conclusão do tratamento, mais de 50% das pessoas têm alguma alteração psicológica, como depressão e ansiedade, precisando muitas vezes de intervenção. “É importante lembrarmos que as causas do câncer são multifatoriais e que, quando citamos a palavra câncer, estamos nos referindo a vários tipos de doenças que afetam diferentes órgãos e tecidos e se manifestam de formas variadas”, complementou Dr. Mark.


Dor oncológica: tema complexo e urgente

Tratar o câncer é necessário, mas não se pode esquecer de cuidar da dor oncológica. Ela deve ser avaliada e controlada corretamente. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), mais da metade dos indivíduos (55%) apresentam dor oncológica. No Brasil, uma pesquisa realizada pelo Instituto Oncoguia com 543 brasileiros, entre abril e julho de 2020, revelou que este dado é ainda mais alto: 71% das pessoas com câncer afirmaram sentir dor, 92% disseram ter conversado com o oncologista sobre o assunto e 70% afirmaram que a dor foi tratada por este médico.

Entre os entrevistados, 66% usavam medicamento para controlar a dor há mais de 1 ano, 31% estavam insatisfeitos por considerarem o tratamento ineficaz ou por causa dos efeitos colaterais e somente 43% reportaram estar com a dor controlada. “Além disso, 78% desses pacientes disseram ter recebido a informação de que a dor faz parte do tratamento do câncer. Isso é algo que buscamos diariamente desmistificar”, afirmou a psicóloga Luciana Holtz (foto à esquerda), presidente do Instituto Oncoguia, explicando que ter câncer não precisa ser sinônimo de sentir dor e levando à reflexão sobre a importância do tratamento multidisciplinar contra a condição.


Marcos Silva, gerente de desfechos médicos da Viatris, reforçou que a dor é muito presente na vida da pessoa com câncer mesmo após o tratamento. “Estatísticas mostram que um terço dos pacientes que se curam do câncer convivem com dor. A própria presença da dor causa sintomas e pode levar à tristeza e depressão. Por isso, precisamos conectar esse tema e desenvolver políticas e protocolos que olhem esse paciente de forma integral”, disse.


Para os especialistas do debate do Fórum DCNTs, a dor oncológica tem uma dimensão que vai além do sofrimento físico. Na maioria dos casos, ela é causada pela própria presença da neoplasia, mas também pode ser resultado de efeitos colaterais do tratamento, pela realização de exames, questões ambientais, entre outras razões, como explicou Luciana Holtz: “A dor total é interpretada não apenas como um fenômeno físico, mas também como sintomas imbuídos de questões emocionais, sociais e até espirituais”. Ela destacou ainda que mais de 30% da população mundial sofre com alguma dor crônica, e “isso tem um impacto gigantesco tanto para os pacientes quanto para a sociedade como um todo. Logo, seguir negligenciando este tema só aumenta o tamanho do desafio”.


A dor moderada ou intensa ocorre em 30% das pessoas com câncer, de acordo com dados do relatório do Instituto Nacional do Câncer (INCA), e metade dos pacientes descobre a neoplasia em uma fase avançada. “Ou seja, quanto menos tratarmos o problema de forma precoce, maior ele se tornará. Por isso, precisamos, sem dúvida nenhuma, seguir orientando sobre a dor oncológica, capacitar os profissionais envolvidos no cuidado da pessoa com câncer e atualizar os tratamentos no SUS”, declarou a presidente do Oncoguia.


Acolhimento e atendimento domiciliar

Na sequência, a cofundadora e diretora do Instituto Bem do Estar, Isabel Marçal, abordou a questão do estigma em torno das doenças que demonstram pré-disponibilidade à dor crônica e salientou que os tabus foram potencializados na pandemia. “Um ponto importante para reflexão é lembrar que a saúde mental é coletiva e não individual, além de muito complexa. Pesquisas mostram que 1 a cada 3 pessoas no mundo, em 2017, já tinha algum diagnóstico de ansiedade. Por isso, é fundamental integrar a saúde mental ao tratamento do câncer”, disse. O tripé, segundo ela, deve ser saúde mental, física e social.

Dra. Vânia Soares, do Hospital de Amor de Barretos (foto ao lado), apresentou o tratamento de ponta realizado nesse município paulista, que tem como foco o cuidado integral e humanizado à pessoa com câncer. “O acolhimento e a preocupação com os familiares dessas pessoas também fazem parte da política do Hospital de Amor”, afirmou. Segundo a médica, o Hospital de Barretos está desenvolvendo um projeto com o intuito de treinar e capacitar os profissionais de saúde. “O objetivo é focar principalmente o agente comunitário, para melhorar o manejo e o apoio a pessoas com câncer na Atenção Primária”, disse.


Na sequência, a enfermeira Karina Mauro Dib, assessora técnica na Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo, ressaltou que o controle da dor oncológica, no contexto do tratamento, deve ser prioridade das unidades básicas de saúde, e destacou o atendimento domiciliar, desenvolvido pelo projeto Melhor Em Casa, como estratégia importante considerando a necessidade singular e a realidade de cada pessoa com câncer. “A atenção domiciliar é uma modalidade potente e muito importante, que deve ser realizada por uma equipe multidisciplinar. A escuta, o vínculo e o diálogo fazem parte desta modalidade”, declarou.


O atendimento domiciliar tem como objetivo prevenir e aliviar o sofrimento, além de fazer um diagnóstico precoce das dores, que nem sempre são físicas, e direcionar o tratamento para a dor total. “Hoje, temos como desafio implementar a linha de cuidados paliativos no município de São Paulo e capacitar os profissionais para o cuidado da dor”, completou.


Diagnóstico, estigma e medo

Em sua apresentação, Dr. Francis Fujii, diretor clínico no SAMU de São Paulo e diretor médico de gestão em saúde na Amil, falou sobre a importância do diagnóstico precoce das neoplasias tanto para o desfecho do tratamento quanto para a redução de gastos públicos. “Um dos grandes desafios no Brasil é fazer o diagnóstico no tempo adequado e o diagnóstico correto. O cenário é complexo e o sistema é fragmentado”, argumentou

Ele citou como exemplo a realização da mamografia como estratégia para detecção precoce do câncer de mama. “Todo ano acontece a campanha Outubro Rosa. Mas aproximadamente 30% somente das mulheres elegíveis fazem mamografia, e isso não significa que todas voltam para buscar o exame ou que um profissional de saúde avaliou o resultado", expôs Dr. Francis, citando um dado da realidade onde atua. “Como gestor, acho primordial entender a jornada do paciente, pois até o diagnóstico é difícil. A jornada é muito complexa”.


De acordo com o médico, o tempo médio que uma paciente leva entre o diagnóstico e o primeiro tratamento varia entre 3 e 6 meses. “Nesse cenário todo ainda existe uma questão muito importante: a do estigma e da negação. Além da jornada da paciente ser tumultuada, muitas mulheres têm medo de encontrar alguma coisa. Portanto, o medo é outro estigma para a realização dos exames”, completa. Para ele, o gestor de saúde tem obrigação de “pegar na mão” dessas mulheres para ter uma trajetória melhor e oferecer apoio e suporte para a dor emocional, a fim de fazer um diagnóstico precoce. “O custo do tratamento do câncer em estágio inicial é somente 5% do tratamento tardio complexo. Por isso, o diagnóstico no tempo correto com o tratamento correto é altamente custo-efetivo e reduz sofrimento.”

No debate, os convidados destacaram que o câncer traz uma ameaça de vida à pessoa que recebe o diagnóstico e que a própria notícia, dependendo da forma como for transmitida, pode impactar na adesão do tratamento. Por esta razão, é fundamental saber manejar a informação. A psicóloga Flávia Sayegh, coordenadora do Comitê de Saúde Mental da Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (ABRALE), trouxe a perspectiva da pessoa com câncer e destacou como palavra central do tratamento a acolhida. “É importante acolher e validar o sofrimento da pessoa com câncer. Não adianta tratar a dor como algo natural sem validar o sofrimento para a pessoa com câncer e seus familiares”, disse.


Para desmistificar os tabus e estigmas, os convidados salientaram a importância da informação sobre o diagnóstico e o tratamento, “com suporte psicológico, psiquiátrico e medicamentoso, se for o caso, para lidar com essas questões”, completou Flávia. Dra. Vânia apontou a necessidade de trabalhar um plano de cuidado integral em todos os níveis de atenção à saúde, utilizando inclusive a tecnologia. Isabel Marçal corroborou a fala da médica do Hospital de Barretos e completou citando a “tecla da educação” como chave para toda e qualquer mudança. “Sem educação dos profissionais de saúde, da equipe multidisciplinar e da sociedade não chegaremos ao diagnóstico precoce.”

Ao final do evento, todos os painelistas concordaram que há necessidade de se implantar modelos de gestão, tanto na esfera pública quanto privada, para tornar a jornada da pessoa com câncer mais assertiva, a fim de aumentar o número de diagnóstico precoce e reduzir o sofrimento, além de capacitar os profissionais de saúde envolvidos em todo o tratamento. O debate, que durou duas horas, foi bastante elogiado pelo time de convidados quanto pelo coordenador geral do Fórum DCNTs. “Todos nós que participamos do debate aprendemos muito sobre os modelos de gestão e estratégias que devem ser feitos em diferentes situações sempre em busca de melhorar o sistema e o desfecho do tratamento da pessoa com câncer”, declarou Dr. Mark Barone.



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