Especialistas reunidos pelo FórumDCNTs apontaram caminhos para o enfrentamento do problema no Brasil
A apneia obstrutiva do sono afeta mais de um terço da população do Brasil. São 27 milhões de brasileiros que, enquanto dormem, apresentam recorrentes obstruções das vias aéreas superiores. “A consequência disso é a diminuição do aporte de oxigênio pelo organismo, o que leva ao risco de síndrome metabólica”, explica a fisioterapeuta cardiorrespiratória Dra. Claudia Albertini. Por sua vez, a síndrome metabólica, caracterizada pela presença de doenças e condições relacionadas à resistência insulínica, como obesidade, hipertensão arterial, diabetes e dislipidemia, aumenta o risco de doenças cardiovasculares. “São problemas de saúde em cadeia com custos não só para o indivíduo mas também para toda sociedade, pela queda na produtividade e absenteísmo no trabalho”, completa. (Confira todos os vídeos do Evento aqui).
Albertini participou do encontro sobre distúrbios do sono promovido pelo Fórum Intersetorial para Combate às Doenças Crônicas não Transmissíveis no Brasil (FórumDCNTs) no dia 29 de maio. O evento Distúrbios do Sono - Fatores de Risco para Condições Crônicas não Transmissíveis: Políticas e Programas para Prevenir e Tratar reuniu médicos e outros profissionais de saúde que atuam em pesquisa, ensino, assistência e gestão para a discussão de ações integradas de combate ao problema. O objetivo da iniciativa foi facilitar o diálogo entre stakeholders das diferentes especialidades médicas e áreas da saúde; atuantes em instituições públicas, privadas e no terceiro setor.
A Classificação Internacional de Distúrbios do Sono lista mais de 70 transtornos. A apneia é o mais prevalente no Brasil, seguida da insônia, que atinge cerca de 15% da população adulta e é um dos fatores de risco para o desenvolvimento de Transtorno de Ansiedade Generalizada e depressão, além das doenças crônicas já citadas.
Doenças crônicas também podem desencadear distúrbios do sono
O cardiologista Dr. Luciano Drager, presidente da Associação Brasileira do Sono (ABS), não tem dúvidas de que sono e doenças crônicas são uma via de mão dupla. “A apneia piora as doenças cardiovasculares e estas e seus tratamentos pioram a apneia”, exemplifica. “Ter diabetes é fator de risco para apneia do sono. Doenças cardíacas, hipertensão e diabetes podem ocasionar insônia”, ressalta a pneumologista Dra. Sonia Togeiro, pesquisadora do Instituto do Sono da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Já o psiquiatra e médico do sono Dr. Almir Tavares lembra que os transtornos de ansiedade também acarretam insônia.
Professor da Universidade de Minas Gerais (UFMG), Tavares destaca que a sociedade hiperconectada desafia quem precisa dormir bem. “O sono é resultado não apenas de atividades biológicas involuntárias, mas também de decisões voluntárias. Os jovens privam-se de sono para manterem-se conectados, o que reduz o funcionamento dos lobos frontais do cérebro. Como consequência, sua capacidade de resolver problemas diminui, enquanto a impulsividade aumenta. Dessa forma, são intensificados os pensamentos negativos, a desesperança, o isolamento, elevando o risco de suicídio”. O médico salienta que a Terapia Cognitivo Comportamental para distúrbios do sono previne e alivia ideação suicida, e tem potencial para reduzir o risco de alterações metabólicas.
São necessárias políticas públicas para os distúrbios do sono no Brasil
O Dr. Luciano Drager lamenta a escassez de arsenal terapêutico para doenças do sono no SUS. “Falta acesso ao aparelho CPAP, à placa de avanço mandibular e à terapia miofuncional para o tratamento da apneia. Em relação à insônia, são limitados os medicamentos e os recursos não farmacológicos, como a Terapia Cognitivo Comportamental”.
O fisioterapeuta Miguel Medeiros afirma que esse grupo de doenças ainda não é amplamente discutido e priorizado pelo SUS. “Os poucos planos terapêuticos a respeito estão em políticas isoladas e sem conexão entre as esferas municipais, estaduais e federais. É essencial a exploração do tema dos pontos de vista técnico e de gestão”. Dr. Mark Barone, coordenador geral do FórumDCNTs, enfatiza que “o Brasil tem ampla tradição na pesquisa das relações entre condições crônicas não transmissíveis e distúrbios do sono”. Barone revela, inclusive, a presença de inovações que barateiam o diagnóstico e modelos municipais de cuidados reconhecidos pela Organização Mundial da Saúde, no país.
Os especialistas que participaram do evento organizado pelo FórumDCNTS concordam que é importante a implementação de uma linha de cuidado para distúrbios do sono pelo Ministério da Saúde. Esta é uma das propostas do documento redigido em conjunto ao final do evento, com os consensos sobre as relações entre distúrbios de sono e doenças crônicas não transmissíveis; bem como as ações prioritárias identificadas para a prevenção, diagnóstico, tratamento e monitoramento desses distúrbios.
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