No dia 06/05 o FórumDCNTs realizou o webinar que teve como tema central “Como Distúrbios do Sono Causam e Agravam DCNTs” com o objetivo de alertar sobre o papel do sono para a manutenção da saúde e dos distúrbios do sono no desenvolvimento e agravamento de CCNTs/DCNTs, propor soluções e potencial linha de cuidado para se ampliar e otimizar a atenção, o diagnóstico e os cuidados com apneia obstrutiva e outros distúrbios do sono em todos os níveis de atenção e engajar os setores público, privado e terceiro setor em esforços conjuntos para a elaboração de políticas e programas que deixem de ignorar os riscos das doenças crônicas ligadas ao sono ou resultantes delas.
O fundador e coordenador geral do FórumDCNTs, Dr. Mark Barone, deu início ao evento dando um panorama sobre a relação do sono com as DCNTs. Ele iniciou sua participação abordando a apneia obstrutiva que pode desencadear DCNTs e como o caminho inverso também pode ocorrer, quando as DCNTs passam a desencadear distúrbios do sono. Ele reforçou que “o sono de qualidade inadequada ou irregular pode levar a uma série de mudanças fisiológicas, podendo desencadear hipertensão, obesidade, doenças cardiovasculares e alterações de saúde mental”, e ainda alertou para os perigos que o distúrbio do sono pode causar no manejo de glicemias para pessoas com diabetes tipo 1, afastando, assim, o indivíduo de uma qualidade de vida adequada.
Dr. Mark Barone destacou que 32,9% da população brasileira apresenta apneia obstrutiva do sono e mais de 27% dorme menos de 6 horas por noite. Por fim, apresentou dados sobre como distúrbios do sono, em diferentes graus, podem impactar a sociedade economicamente.
O primeiro convidado a falar foi o Sr. Douglas Silva, líder da área de acesso na ResMed Brasil. Ele iniciou sua participação contextualizando o papel da ResMed no âmbito do sono e afirmou: "a qualidade de vida gira em torno do seguinte tripé: sono de qualidade, alimentação saudável e exercícios físicos”.
Silva explica que a ResMed encontrou a necessidade de um maior apelo por parte das políticas públicas em abranger essas questões relacionadas ao sono. Ele aponta que entre 2016 e 2020 foram identificados mais de 1400 casos judiciais para ter acesso a diagnóstico e tratamento e que esses dados fomentam o ímpeto da ResMed em facilitar o acesso ao tratamento.
Foi chamada a seguir a Dra. Andrea Levy do Instituto Obesidade Brasil, que abordou, principalmente, a visão do paciente. A Dra. falou sobre sua experiência pessoal e contratou todas as dificuldades que o distúrbio do sono pode desencadear e como é necessário, por parte da equipe de saúde, ouvir mais as pessoas acometidas por essas dificuldades para melhorar os tratamentos e a qualidade de vida dessas pessoas.
A seguir, foi dada a vez ao Dr. Luciano Drager, especialista em medicina do sono e presidente da Associação Brasileira do Sono que deu início a sua fala abordando os diferentes tipos de distúrbios do sono.
Seu tempo de fala seguiu dedicado aos resultados do Projeto Hermes, que se trata do primeiro passo de uma abordagem multifacetada que busca fazer um diagnóstico situacional do Brasil neste cenário e propor estratégias para avaliar a viabilidade de acesso fácil aos tratamentos e diagnóstico, uma vez que o tempo de espera para a realização de um exame do sono pode chegar a mais de 30 meses.. O estudo se concentra principalmente na identificação e caracterização dos recursos diagnósticos da AOS e dos recursos de tratamento com CPAP no Sistema Único de Saúde (SUS). O projeto conta com a participação de 36 centros de sono no país, contudo, o Dr. Drager destaca a distribuição desigual desses centros, em número muito maior nas regiões Sul e Sudeste.
Dando continuidade, o Dr. Geraldo Lorenzi, professor e chefe-fundador do laboratório do sono do InCor, na Faculdade de Medicina da USP, analisou os hábitos de sono em nossa sociedade atual, falando, principalmente, sobre o ritmo que o ser humano tem levado, com menos tempo de sono e bem mais irregular. Ele alerta especialmente para o uso da tecnologia e atividades disponíveis na madrugada que alteram a rotina de sono do ser humano. O Dr. Lorenzi ainda detalhou os tipos de insônia e os níveis de apneia do sono que acometem nossa sociedade e chama atenção “o sono, para muitos, é algo subestimado e deixado de lado, o que dificulta em nosso dia a dia e na qualidade de vida num âmbito geral”. Dr. Lorenzi ainda alerta para o fato que existem mais de 1 bilhão de pessoas que sofrem com apneia do sono no mundo e grande parte segue sem diagnóstico e tratamento.
Para falar sobre o porquê dos distúrbios do sono serem ignorados como fatores de risco para as DCNTs foi chamado o Dr. Rodrigo Pedrosa que trouxe dados sobre a epidemia de distúrbios do sono, principalmente a apneia, e sua relação direta com as DCNTs.
Em seguida, foi dada a palavra à ginecologista Dra. Marislene Nunes para falar sobre o telediagnóstico no município de Araguari. Ela iniciou sua participação falando sobre a negligência relacionada às questões do sono, principalmente no SUS.
A Dra. detalha informações sobre um projeto piloto feito em Araguari-MG sobre o papel do sono na saúde primária e como profissionais da saúde abordam este tema. Neste projeto, foi levado aos profissionais da saúde o seguinte questionamento: “Você pergunta ao seu paciente como ele dorme mesmo quando a queixa não vem relacionada diretamente ao sono?”, que obteve uma resposta negativa prevalente. A partir disso, o projeto teve como objetivo implementar esses questionamentos sobre o sono à APS, a fim de aumentar e facilitar o diagnóstico e conseguir correlacionar o distúrbio do sono a outras complicações.
Este projeto facilitou e reduziu a jornada do paciente com distúrbios do sono pelo sistema de saúde e, além disso, sensibilizou profissionais da saúde a começarem a colocar em prática o sono no nível de APS.
Na abertura do debate, foi questionado aos profissionais sobre a relação entre hipertensão e apneia do sono. O Dr. Rodrigo Pedrosa tomou a frente e respondeu: "a maior parte das DCNTs não tem uma única causa, são multifatoriais, e a hipertensão não é diferente. O sedentarismo, a alimentação, genética, hábitos de vida, obesidade, apneia, são todos fatores importantes. Quando se trata de um indivíduo hipertenso com apneia do sono, precisa ser lembrado que estamos tratando um desses pilares, mas existem outros a serem trabalhados. Não há dúvida que o tratamento traz benefícios ao gerenciamento da hipertensão”.
Ele ainda acrescenta que quando se fala de mortalidade os estudos ainda são muito escassos e conflitantes, mas que é claro que a taxa de mortalidade entre pessoas que já sofrem com a DCNT é maior entre pessoas que somam isso à distúrbios do sono, especialmente quando se trata de apneia grave.
Dr. Mark Barone reforçou a importância de uma parceria entre os setores público, privado e terceiro setor. Douglas Silva também acrescentou a importância dos esforços conjuntos para dar visibilidade a qualidade do sono que gera um impacto necessário na saúde e qualidade de vida. Em relação aos esforços relacionados à indústria, Silva falou sobre a conscientização da população, para tentar aumentar e acessibilizar o diagnóstico, e focar em estudos que evidenciem a importância do sono, “quando se fala sobre políticas públicas no Brasil, as decisões vão ser tomadas somente no momento onde tivermos evidências locais”.
Mais a frente do debate, a Dra. Marislene Nunes falou sobre planos de enfrentamento às DNCTs e sobre as políticas de APS. Ela abordou a falta de vontade por parte dos poderes públicos que dificultam as ações mobilizando recursos para outros setores que não os que priorizam a atenção à saúde básica.
Foi levantada a questão sobre os dispositivos disponíveis no mercado para auto-diagnóstico de apnéia do sono. Em resposta, o Dr. Lorenzi evidenciou resultados de estudos do InCor que mostram que muitas pessoas seguem sem o diagnóstico de apneia e distúrbios do sono e validou o uso de aparelhos de poligrafia para o diagnóstico, como um sistema simplificado e acessível.
Para encerrar, o Dr. Drager ratificou a fala anterior do Dr. Lorenzi validando os aparelhos de poligrafia, mas expôs sua preocupação em relação à falta de centralização do cuidado dessas pessoas que muitas vezes não se consultam com profissionais especialistas do sono, indo direto à profissionais que vão adaptar o CPAP. Essa situação dificulta o tratamento pois o indivíduo muitas vezes pode não recorrer ao melhor tratamento, além de dificultar a abordagem integrada que se faz necessária.
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