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Inovação no cuidado às CCNTs tem o Brasil como líder emergente em saúde digital

Tecnologias como telemedicina e IA transformam o tratamento das CCNTs, mas desafios de integração e colaboração persistem


No dia 29 de novembro, o FórumCCNTs realizou o evento híbrido interativo "Saúde Digital: Revisão Crítica para Acelerar em CCNTs", reunindo especialistas para discutir avanços, desafios e soluções tecnológicas voltadas às condições crônicas não transmissíveis (CCNTs). O evento contou com a participação de líderes de instituições renomadas, como UFG, Hospital Israelita Albert Einstein, FIND, Boehringer Ingelheim, entre outros nomes importantes e renomados.


Foto: Arquivo pessoal

A mesa de abertura contou com Beatrice Vetter, da FIND, destacando que "mais de 50% das pessoas com diabetes e hipertensão permanecem sem diagnóstico". Ela enfatizou que ferramentas como dispositivos de monitoramento contínuo de glicose podem transformar a gestão dessas condições ao fornecer dados em tempo real para pessoas com diabetes e profissionais de saúde, mas alertou que "integrar tecnologias digitais em todos os níveis de cuidado ainda é um desafio significativo". Yara Baxter, da Novartis Foundation, complementou que "a tecnologia está pronta, mas sua implementação ainda está distante da realidade", citando boas práticas observadas em Aracaju e no sertão da Paraíba, onde o uso do digital tem sido mais eficiente em comparação aos grandes centros urbanos, como São Paulo.


Michelle Mello, da Roche, destacou que a interoperabilidade de dados é essencial para o cuidado eficiente, sendo possível apenas com a colaboração de médicos, enfermeiros, diretores de TI e gestores de saúde. Ela enfatizou a importância de identificar os gaps no fluxo de dados entre o SUS e o setor privado para melhorar o atendimento à população, citando um projeto recente em Curitiba sobre integração de dados para câncer de mama. Claudia Albertini, da Biologix, apresentou dados sobre a apneia do sono, mostrando que, enquanto o SUS realizou 12.000 polissonografias em 2023, a Biologix executou 14.000 exames mensais na rede privada. Ela ressaltou que a inovação tecnológica deve ser acompanhada de educação, oferecendo suporte a profissionais e a população, e destacou a relevância de incluir fisioterapeutas e nutricionistas no acompanhamento, tornando o cuidado mais integrado.



João Bordallo, da Boehringer Ingelheim, apresentou iniciativas da empresa que têm impacto direto no SUS, como o programa Abraçar, responsável por 20% dos exames de espirometria realizados no SUS nos últimos dois anos, com foco em DPOC. Outro exemplo é a iniciativa Angels, que estrutura redes hospitalares para o cuidado ao AVC e utiliza inteligência artificial e telessaúde para melhorar o atendimento. "Também estamos investindo em computação quântica, que, em parceria com o Google, está acelerando a descoberta de novas moléculas viáveis para tratamentos", explicou.


Durante o evento, a contribuição intersetorial e multistakeholder para aprimorar a Saúde Digital foi amplamente discutida, destacando dados e cases de impacto. Iseli Reis, do GT Saúde Digital do FórumCCNTs, mencionou que "40% das internações hospitalares por insuficiência cardíaca foram reduzidas com o uso de telemedicina e monitoramento remoto, de acordo com estudos de Harvard". Ela também citou a melhoria de 1,5% nos níveis de hemoglobina com o uso de aplicativos, destacando que "isso representa uma mudança considerável na qualidade de vida" e apontou que a inteligência artificial pode alcançar "90% de acuracidade" em análises preditivas, auxiliando na precisão diagnóstica, sem substituir profissionais de saúde. Andrew Pattison, da OMS, trouxe exemplos globais, como o aumento de 11% nas taxas de vacinação em Recife com o uso de um chatbot, e a necessidade de parcerias público-privadas, mencionando plataformas como WhatsApp, TikTok e Google para expandir as mensagens de saúde. Ele também enfatizou a importância de publicar evidências, dizendo: "Precisamos incluir elementos de pesquisa em cada ferramenta digital que desenvolvemos, criar estudos de caso e publicar nossas descobertas". Ambos os painelistas destacaram o Brasil como um líder emergente em saúde digital, com Pattison afirmando: "Vocês estão em uma posição única para liderar iniciativas globais", e reforçando que "a transformação digital na saúde depende de evidências sólidas, cooperação e uma visão clara de impacto em larga escala."



Moderado por Ricardo Lauricella, o primeiro painel discutiu a saúde digital no Brasil com foco na interoperabilidade do SUS. Lauricella destacou que 99% do país já conta com o SUS digital, com iniciativas como o teleatendimento em Cubatão, e ressaltou que tecnologias como a telemedicina têm ajudado no acompanhamento de condições crônicas. Marizélia Leão Moreira, do CONASEMS, mencionou a implementação premiada de telemedicina no Amazonas, mas destacou os desafios de infraestrutura para expandir essas soluções a todo o Brasil. Ela também enfatizou o objetivo de reduzir custos e melhorar a eficiência, liberando tempo para os profissionais de saúde.



Edson Amaro, do Hospital Israelita Albert Einstein, trouxe exemplos de Big Data e Inteligência Artificial no enfrentamento da pandemia e como a teledermatologia ajudou a reduzir uma fila de 60.000 consultas. Ele alertou sobre a necessidade de continuidade e regulamentação adequada para o sucesso da tecnologia. Marianne Pinotti, do Ministério da Saúde, detalhou iniciativas governamentais como o prontuário eletrônico unificado, com a adesão de 100% dos estados e municípios ao índice de maturidade em saúde digital. Ela destacou que o SUS realiza 2,8 bilhões de atendimentos anuais e que o governo investirá R$ 464 milhões até 2025 para ampliar o uso de tecnologias, como a telessaúde, que já evitou 256 mil quilômetros de deslocamentos no Ceará.


Ricardo Baptista Leite, CEO da HealthAI, falou sobre o crescimento do mercado global de IA em saúde, projetado para alcançar US$ 427,5 bilhões até 2032. Ele mencionou como a IA, big data e chatbots estão transformando o cuidado de pessoas com condições crônicas, mas alertou sobre desafios regulatórios e a necessidade de regulamentações robustas para garantir privacidade e segurança. A Subcomissão Especial de Saúde Digital, coordenada pela Deputada Federal Flávia Morais, também destacou o potencial da saúde digital, mas apontou obstáculos como o acesso à internet e a qualificação dos profissionais de saúde.


Foto: Arquivo pessoal

O segundo painel do evento abordou o avanço da saúde digital no Brasil, com ênfase na colaboração entre diferentes atores do setor. Eduardo Macário (SES-SC) alertou para a necessidade de cautela com inovações tecnológicas no SUS, como telemedicina e inteligência artificial, destacando que o uso de dados deve ser cuidadosamente regulado. Yara Baxter, da Fundação Novartis, falou sobre as parcerias intersetoriais, mencionando o uso de simuladores em Aracaju desde 2017 para otimizar o diagnóstico e manejo de condições crônicas, como hipertensão. Já Guilherme Sakajiri, da ABSS, ressaltou que "três em cada quatro mortes no Brasil são causadas por CCNTs", e enfatizou a importância das startups, citando a Amparo Saúde, que atendeu mais de 1 milhão de vidas, e a Huna, que usa hemogramas para detectar precocemente o câncer de mama.


O painel também discutiu o potencial do telediagnóstico integrado à Atenção Primária à Saúde (APS) para transformar o manejo de CCNTs no Brasil. Alexandre Taleb, da UFG, destacou que a APS é o ponto de entrada no SUS, com grande potencial para integrar tecnologias de telecomunicação. Ele citou o exemplo de Cristalina (GO), onde uma UBS foi equipada com tecnologias de telediagnóstico, gerando resultados positivos, como exames de sangue e consultas remotas. Além disso, o uso de tecnologias como retinografia, dermatologia e telecardiologia têm potencial para diagnosticar condições como diabetes, câncer e cardiorrespiratórias.


Foto: Arquivo pessoal

Geraldo Lorenzi Filho, discutiu a apneia do sono, uma condição comum e subdiagnosticada que afeta 33% da população adulta no Brasil, e alertou para os impactos econômicos, com perdas de US$ 149,6 bilhões anuais devido ao subdiagnóstico. Ele destacou que o uso de tecnologias de baixo custo, como oxímetros de alta resolução, está tornando o diagnóstico mais acessível, citando a Biologix, que realiza mais de 13.000 exames mensais. Márcio Galvão, da UFBA, discutiu o impacto de tecnologias como point-of-care e telessaúde, com exemplos de sucesso, como o uso de aparelhos para medir hemoglobina glicada em Vitória da Conquista, que melhoraram significativamente os resultados em pessoas com hipertensão e diabetes.


Foto: Arquivo pessoal

Esses avanços mostram o grande potencial da integração de tecnologias no diagnóstico remoto para transformar a gestão das condições crônicas no Brasil. Iniciativas como o envio de mensagens educativas e o monitoramento domiciliar da pressão arterial também têm contribuído para a melhoria do manejo das condições de saúde, com resultados positivos no aumento da adesão ao tratamento e na redução de complicações.


Em paralelo, uma Carta de Recomendações foi elaborada pelo FórumCCNTs e 63 líderes e especialistas, abordando a importância da aceleração da saúde digital nas condições crônicas não transmissíveis (CCNTs). A carta destaca a necessidade de expandir o acesso à saúde digital de forma equânime, especialmente para populações vulneráveis, e de garantir a segurança e privacidade dos dados médicos, conforme a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).



O evento reforçou a importância da inovação tecnológica como ferramenta essencial na transformação da saúde no Brasil, especialmente no contexto das Condições Crônicas Não Transmissíveis (CCNTs). A integração de tecnologias como point-of-care, telessaúde e soluções digitais oferece um imenso potencial para melhorar o acesso, a qualidade e a eficiência dos cuidados de saúde, especialmente em áreas remotas e populações vulneráveis. No entanto, para que esses avanços sejam realmente eficazes, é crucial que sejam implementados com sensibilidade ao contexto local, com foco na inclusão digital e no empoderamento dos profissionais e usuários do SUS. O caminho para uma saúde digital equitativa passa pela capacitação contínua, pela garantia de segurança dos dados e pela criação de políticas públicas que incentivem o uso responsável e sustentável dessas tecnologias. Estamos diante de um momento decisivo, onde a colaboração entre diferentes atores e o compromisso com a equidade poderão, de fato, moldar o futuro da saúde no Brasil.

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