Na abertura do evento “Obesidade sem estigma, da prevenção ao direito ao cuidado” que tem como objetivo de aprofundar a compreensão sobre os determinantes sociais, culturais e clínicos da obesidade, identificar pontos de fragilidade na prevenção e tratamento da condição, engajar os setores público, privado e terceiro setor em esforços conjuntos para a elaboração de políticas e escala de programas holísticos de prevenção e cuidado integral, o Dr. Ronaldo Wieselberg evidenciou os estigmas que pessoas com obesidade enfrentam. Ele alerta sobre a importância da linguagem e relembra o documento “Linguagem Importa” lançado pelo FórumDCNTs com sugestões de palavras a serem escolhidas, trazendo valiosas recomendações, alicerçadas em referências globalmente estabelecidas.
A Sra. Simone Tchernialovsky (Novo Nordisk) passou um panorama geral sobre os estigmas já citados, as políticas públicas implantadas e a necessidade de novas políticas em torno de um tema tão complexo e delicado. Ela fala sobre os recursos disponíveis da Novo Nordisk como o “Saúde Não Se Pesa”, campanha em parceria com a ABESO, explica o papel da instituição no investimento de pesquisas e desenvolvimento de tratamentos e tecnologias de saúde e cita algumas parcerias, incluindo o Painel Brasileiro da Obesidade, as quais ela usa para destacar a importância da comunicação entre setores para lidar com essa condição e que auxiliam a Novo Nordisk para que esse trabalho possa alcançar o maior número de pessoas. Ela finaliza sua fala inicial lembrando da importância de um tratamento acessível e atualizado para manter a saúde como prioridade.
A Sra. Andrea Levy (Obesidade Brasil) destaca a importância de falar e entender melhor sobre a condição que atinge mais de 40 milhões de pessoas. Ela alertou sobre os obstáculos que ainda devem ser ultrapassados para fazer com que as pessoas, com e sem a condição, entendam que a obesidade é um quadro crônico e não puramente estético. Ela também alerta sobre os estigmas, a falta de empatia da população em relação a condição, a necessidade de abranger o assunto para melhor entendimento e a dificuldade causada pela falta de acessibilidade para essas pessoas. Para ilustrar, a Sra. Levy contou alguns casos de preconceito que ela presenciou durante seus anos de experiência e destaca que o preconceito mata, pois a pessoa com obesidade se isola da sociedade, para de estudar, têm menores salários ou dificuldades no mercado de trabalho, além de conviver com profissionais de saúde despreparados que os estigmatizam.
O Dr. Wieselberg complementou as falas anteriores relembrando que obesidade por si só além de ser um quadro crônico, agrava mais de 190 outras questões de saúde.
O Dr. Guilherme Nafalski (Instituto Cordial) dá início a sua participação dando um panorama da prevenção a obesidade nos últimos anos. Ele destaca, a partir do trabalho realizado pelo PBO, a complexidade e multifatoriedade da obesidade. O Dr. apresentou um mapeamento da rede de organizações envolvidas trabalhando nesse âmbito. Ele ainda aponta condições que agravam ou levam a essa condição e aponta que a obesidade é sempre tida como responsabilidade do setor da saúde, quando na verdade uma multiplicidade de setores deveriam estar atentos e engajados nessa questão.
A Sra. Carolina Rocha, Analista de Saúde do Instituto Desiderata, fala sobre o cenário de prevenção, principalmente entre crianças e adolescentes. Ela traz dados do Panorama da Obesidade em Crianças e Adolescentes que foram retirados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN) que mostram o índice de obesidade nessas faixas etárias no Brasil e aborda como esses dados são importantes para a implementação de novas políticas públicas. A Sra. Rocha aborda pontos estratégicos para conseguir reduzir os indicadores de obesidade no Brasil como: capacitação de profissionais da saúde, ações regulatórias, levantamento de dados, disseminação de conhecimento e a comunicação, e destaca as ações regulatórias do Instituto Desiderata para esse fim, que são: restrição da oferta de bebidas açucaradas e alimentos ultraprocessados em escolas do Município do Rio de Janeiro, regularização e exposição de alimentos ultraprocessados em estabelecimentos comerciais e a implementação de salas de amamentação em empresas sediadas no Município do Rio de Janeiro.
A Dra. Cintia Cercato (ABESO) traz dados de uma pesquisa feita pela instituição que está disponível em abeso.org.br sobre o atual cenário da obesidade. Ela aborda o despreparo de profissionais de saúde ilustrando com situações nas quais as pessoas sofreram constrangimento em consultas médicas. A Dra. apresentou dados que mostram que, apesar disso, o maior índice de constrangimento parte dos familiares e alerta para a urgência da necessidade de abordar essa temática e respeitar essas pessoas desconstruindo todos os estigmas. A Dra. ainda apontou dados sobre o tratamento e que cerca de 32% das pessoas com essa CCNT/DCNT não procuram ajuda profissional para fazer um tratamento adequado, isso muito em recorrência a falta de acolhimento, empatia e conforto por parte dos profissionais da saúde e que isso acontece com uma decorrência muito maior no setor público. Ela ainda alerta sobre os perigos de tratamentos “alternativos”, como chás e emagrecedores naturais não recomendados por profissionais da saúde, e a bandeira de alerta que essa situação evidencia em relação a necessidade de implantar tratamentos acessíveis, com acolhimento e profissionais qualificados.
A Sra. Marília Albiero (ACTbr) aborda o tema das políticas públicas e regularização em combate a obesidade e desnutrição. A Sra. Albiero falou sobre a regularização do ambiente, que envolve o tabagismo, alimentos ultraprocessados e bebidas açucaradas e alcoólicas que são agravantes e fatores de risco para DCNTs. Abordando também a prevenção em crianças e adolescentes, falou sobre o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) que implementa regulamentações para ajudar nesse cenário, como a regularização da rotulagem de alimentos ultraprocessados e as mudanças publicitárias que já começaram a ser implantadas pelo resto do mundo. Para finalizar, ela reitera sua fala sobre a importância da tributação de alimentos com excesso de açúcar e gordura e como o Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer.
A Sra. Gabriella Carrilho do Ministério da Saúde traz para debate o papel do SUS na prevenção e cuidado da obesidade no Brasil. A Sra. Carrilho discorre sobre a necessidade da comunicação entre setores, e como a obesidade é uma DCNT multifacetada e não individual. Ela ainda aborda recursos para conseguir fomentar a Atenção à Saúde Primária e expõe materiais lançados para auxiliar nos cuidados e informação sobre a condição. A Sra. Carrilho também trouxe ao webinar as estratégias traçadas pelo Ministério da Saúde para que os municípios possam melhorar a Atenção Primária à Saúde (APS), como: vigilância alimentar e nutricional, formação de educação permanente, promoção da saúde e da alimentação adequada e saudável, cuidado de pessoas com sobrepeso e obesidade, comunicação direta, monitoramento, pesquisa e avaliação, e financiamento. Ela também aborda a Estratégia Nacional de Prevenção e Atenção à Obesidade Infantil lançada pelo Ministério da Saúde, para garantir um futuro mais saudável, destaca recursos disponíveis no aplicativo e-saúde como o ‘Peso Saudável’ que auxilia pessoas com obesidade e apresentou o Curso de Especialização Atenção à Saúde de Pessoas com Sobrepeso e Obesidade em parceria com a UFSC.
Em debate aberto, os painelistas falam sobre o amadurecimento em relação ao tratamento perante a obesidade e o caminho que já percorreram. Eles expõe o risco dos mitos que circulam e como os documentos lançados podem, e tem, ajudado com isso e que o tratamento farmacológico não exclui a necessidade da mudança de estilo de vida.
Quando questionados sobre o papel da sociedade em relação aos 40 milhões de pessoas acometidas pela obesidade, o Dr. Guilherme Nafalski traz de volta a debate a questão do acolhimento e como os estigmas não podem e não devem ser normalizados. A Sra. Andrea Levy complementa abordando que: a dificuldade no tratamento muitas vezes vem por meio do estigma de muitas pessoas não considerarem a obesidade como uma doença e como isso precisa ser falado e trazido a debate em âmbito social. A Sra. Tchernialovsky encerra a resposta evidenciando a necessidade da informação, o combate aos mitos e a disseminação de materiais de estudo que servem de auxílio para essa questão.
Quando questionada sobre as estratégias para diminuir a curva de obesidade no Brasil, a Dra. Marília Albiero abordou os componentes e estratégias que têm auxiliado na redução da ascendência da DCNT no Brasil já abordados anteriormente, falou sobre a Agenda Regulatória e alertou que o ponto inicial mais importante não é o declínio da curva e sim a estabilização para evitar o ascendência constante da condição. Para encerrar, Sra. Albiero ainda destaca que, segundo a constituição, é um direito humano à alimentação adequada e saudável.
Para encerrar, o Dr. Nafalski voltou a falar sobre a invisibilidade e negligência que a obesidade sofre e como o Painel da Obesidade tem se mobilizado para combater essa questão.
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