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Estratégias para reduzir drasticamente as mortes por AVC no Brasil são discutidas em evento

Com mais de 100 mil mortes anuais, o AVC representa uma crise de saúde pública. Em evento realizado pelo FórumCCNTs, especialistas destacaram a urgência de implementar campanhas de prevenção e políticas de rastreamento e diagnóstico precoce para reduzir tanto a mortalidade quanto os custos econômicos elevados


No dia 14 de junho de 2024, o FórumCCNTs realizou o evento "AVC - Avanços para reduzir mortes no Brasil", reunindo especialistas e representantes de diversas instituições para discutir estratégias de prevenção e tratamento do AVC no Brasil. O acidente vascular cerebral (AVC) é uma das principais causas de morte e incapacidade no país, responsável por mais de 100 mil mortes em 2021, o que equivale a cerca de 343 vidas perdidas por dia​​. Além do impacto direto na vida das pessoas, o AVC gera um enorme custo econômico, incluindo gastos com cuidados de saúde e perda de produtividade. Em 2019, globalmente, ocorreram 12,2 milhões de casos incidentes de AVC, com o AVC isquêmico representando 62,4% de todos os casos​​.

A abertura do evento foi conduzida por Elton Sady, secretário-geral da Associação Brasileira de Enfermagem - Seção Minas Gerais e membro do FórumCCNTs, que ressaltou a importância do evento para promover discussões sobre condições crônicas não transmissíveis. "A realização desse evento é uma grande conquista para darmos visibilidade ao nosso sistema de saúde pública e ao sistema de saúde como um todo," afirma Elton Sady.


"O FórumCCNTs tem a característica de promover essa discussão e colaboração entre diferentes setores, que estão aqui representados pelos painelistas. O AVC é uma condição que, embora tenha uma prevalência considerada baixa, afetando aproximadamente 1% da população adulta brasileira, traz um comprometimento muito significativo para a saúde, o bem-estar e a qualidade de vida das pessoas acometidas por essa condição".


Patrícia De Luca, da Associação Brasileira de Hipercolesterolemia Familiar e co-fundadora do FórumCCNTs, compartilhou sua experiência pessoal com um AVC transitório, destacando a necessidade de considerar a perspectiva da pessoa. “A função do evento é trazer a perspectiva da pessoa afetada para lembrarmos que nosso trabalho é salvar vidas,” afirmou De Luca​​.


Tacyra Valois, do Colégio Brasileiro de Executivos em Saúde, falou sobre a implementação do Dia Nacional de Prevenção ao AVC, instituído pela Lei 14.885/2024. Valois explicou que “foi muito importante envolver os municípios para garantir que o tratamento chegasse à ponta”​​. A lei foi promulgada no dia 11 de junho de 2024 e visa aumentar a visibilidade do problema do AVC no Brasil. Tacyra destacou que o projeto de lei que institui o Dia Nacional do AVC foi apresentado em 2015 e reapresentado em 2021, até ser recentemente aprovado.


Enquanto aguardavam a aprovação nacional, vários estados implementaram seus próprios Dias Estaduais do AVC. Segundo Valois, é crucial que o problema do AVC esteja na agenda política, pois os principais desafios são tempo, acesso e cuidado adequado. Ela explicou que o cuidado envolve protocolos técnicos, cuja estrutura depende de decisões políticas, e que a qualidade e segurança são responsabilidades compartilhadas. Foi enfatizado que, em um dia dedicado a essa causa, é essencial mobilizar a sociedade civil organizada e a comunidade médica, destacando a importância da agenda técnica relacionada ao AVC.


Sheila Martins, da Rede Brasil AVC/WSO, destacou que, por 30 anos, o AVC foi a principal causa de morte no Brasil, mas isso começou a mudar em 2011 quando o Ministério da Saúde iniciou a organização de serviços de AVC. Para diminuir o número de casos, é essencial focar na prevenção. Para reduzir a mortalidade, é necessário organizar serviços de fase aguda, como unidades de AVC, trombólise e trombectomia, além de garantir a reabilitação precoce e a continuidade pós-alta, que ainda é um grande desafio no país.

A organização do cuidado ao AVC no Brasil começou em 1996, com a aprovação da trombólise, e se consolidou em 2008 quando o Ministério da Saúde criou um plano nacional com o apoio de especialistas, resultando na fundação da Rede Brasil AVC. Em 2012, um marco significativo foi a portaria que introduziu a trombólise no SUS e estabeleceu unidades de atendimento a AVC com equipes multidisciplinares capacitadas.


A Rede Brasil AVC, junto com a Organização Mundial de AVC, criou um programa gratuito de certificação para hospitais, com 26 centros certificados atualmente. No Rio Grande do Sul, uma parceria com o governo estadual monitora a linha de cuidado e certifica centros para garantir a implementação adequada das práticas recomendadas.


Ela também ressaltou a importância da educação contínua sobre AVC, com cursos online gratuitos focados na prevenção, tratamento e reabilitação, capacitando profissionais de saúde e agentes comunitários. Além disso, mencionou a implementação do programa TeleStroke, que leva especialistas a áreas remotas, e o estudo que mostrou a efetividade da trombectomia mecânica, recentemente aprovado pelo SUS.



Durante o evento, o Dr. Álvaro Avezum, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), discutiu as abordagens mais eficazes para tratar o AVC e sua incorporação no Sistema Único de Saúde (SUS). Ele destacou a importância dos dados cumulativos e prospectivos na tomada de decisões. No Brasil, um país de economia intermediária, 43% das causas de morte são cardiovasculares e 30% são decorrentes de câncer.


Ao abordar a prevenção dos Ataques Vasculares Cerebrais (AVC), o Dr. Avezum afirmou que 90% dos casos poderiam ser evitados com a prevenção da hipertensão, a qual poderia reduzir 47,4% dos AVCs. Além disso, a prática de atividade física e uma alimentação saudável são cruciais para prevenir esses eventos. A hipertensão arterial foi identificada como o principal fator de risco tanto para AVC isquêmico quanto hemorrágico. Globalmente, apenas 10% das pessoas com hipertensão possuem a pressão arterial controlada.


No que diz respeito ao tratamento pós-AVC, uma análise das práticas na atenção primária revelou que, apesar das terapêuticas baseadas em evidências, apenas 24% das pessoas utilizam antiplaquetários e 10% utilizam estatinas, destacando a necessidade de maior adesão a esses tratamentos para melhorar os desfechos clínicos.


Octavio Pontes, da Faculdade de Medicina da Universidade de Ribeirão Preto (FMRP - USP), destacou o impacto devastador do AVC na América Latina e no Brasil, enfatizando: "O AVC não é apenas uma das principais causas de morte, mas também uma condição que frequentemente resulta em incapacidade permanente, afetando não apenas as pessoas, mas toda a dinâmica familiar.".


Ele discutiu a importância de implementar estratégias comprovadamente eficazes na redução da incidência de AVC, citando avanços significativos no tratamento isquêmico e hemorrágico ao longo das décadas, como evidenciado em estudos recentes.


Pontes também abordou os desafios na adoção dessas práticas pelo sistema de saúde pública brasileiro, mencionando o atraso na incorporação de técnicas como a trombectomia mecânica em comparação com países desenvolvidos. Ele destacou melhorias na gestão do AVC hemorrágico, sublinhando a importância do neurointensivismo e de abordagens interdisciplinares para otimizar a evolução clínica dos pessoas.


Além disso, o especialista enfatizou a necessidade urgente de incorporar novas drogas anticoagulantes seguras e eficazes no tratamento do AVC, um passo crucial que enfrenta desafios significativos de implementação no Sistema Único de Saúde (SUS). Ele também mencionou o papel essencial da telemedicina na ampliação do acesso a especialistas neurologistas, especialmente em um país de grande extensão territorial como o Brasil, destacando sua eficácia na interpretação remota de exames e na oferta de cuidados especializados as pessoas com AVC.


Rodrigo Cariri, da Secretaria de Atenção Especializada à Saúde (SAES) do Ministério da Saúde, em sua participação no evento, destacou três principais áreas de atuação recente do ministério. Ele ressaltou a importância de olhar para o futuro após um período desafiador e celebrou a incorporação da trombectomia mecânica no SUS.


Primeiramente, Cariri falou sobre a nova política de financiamento da atenção primária (APS), que substitui o antigo Previne Brasil. A política anterior reduziu os incentivos financeiros, prejudicando o funcionamento das equipes. A nova política inclui indicadores revisados que promovem maior impacto populacional.


Em outubro passado, foi publicada a primeira política nacional de atenção especializada, que introduz cuidados integrados para condições crônicas na cardiologia, câncer, ortopedia, otorrinolaringologia e oftalmologia. Esta mudança visa melhorar o diagnóstico e a integralidade no cuidado, oferecendo financiamento para consultas com especialistas e exames complementares.


Por fim, Cariri apresentou a Portaria 1996, publicada em novembro de 2023, que reconhece 13 centros de AVC de nível 3 no Brasil, capacitados para realizar trombectomia mecânica. Em 2023, foram realizados apenas três procedimentos, enquanto em 2024 já foram realizados 117, embora o número ainda seja baixo. O Hospital Estadual de Vitória lidera com 63 procedimentos. Cariri destacou a necessidade de mais capacitação das equipes e melhorias no atendimento pré-hospitalar na rede de urgência e emergência, além de considerar a ampliação dos serviços para aumentar o acesso.


Maria Cristina Izar, da SOCESP, compartilhou dados sobre a prevalência do AVC e os principais fatores de risco, destacando que "a pressão arterial elevada, o IMC elevado e a glicemia de jejum elevada são fatores críticos que precisam ser controlados para prevenir o AVC"​​.



Além das vidas perdidas, os principais fatores de risco para o AVC incluem pressão arterial elevada, que contribui para 55,5% dos DALYs (Anos de Vida Ajustados por Incapacidade), IMC elevado com 24,3% dos DALYs, glicemia de jejum elevada com 20,2% dos DALYs, poluição ambiental com 20,1% dos DALYs e tabagismo com 17,6% dos DALYs​​. No portal do Ministério da Saúde, são elencados os principais fatores de risco do AVC e como controlá-los.

Doze principais fatores de risco cardiovascular, incluindo hipertensão arterial, obesidade abdominal, tabagismo, entre outros, contribuem para a incidência de AVC.


O evento do FórumCCNTs foi um marco importante na promoção de estratégias eficazes para a redução das mortes por AVC no Brasil, reunindo especialistas de várias áreas para compartilhar conhecimentos e desenvolver políticas públicas. A implementação de práticas baseadas em evidências, como a trombólise e a trombectomia mecânica, é crucial para melhorar os desfechos das pessoas e reduzir a carga econômica associada ao AVC​​.


O evento encerrou-se com um sentimento de urgência e determinação entre os participantes para continuar avançando na luta contra o AVC, com a promessa de que a colaboração entre diferentes setores e a implementação de políticas eficazes trarão resultados positivos na redução das mortes e na melhoria da qualidade de vida das pessoas afetadas.


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