Evento debateu a associação entre diferentes condições crônicas de alta prevalência, apresentou modelos de programas que têm alcançado resultados positivos no acompanhamento de pessoas com CCNTs e discutiu estratégias para evitar o aumento e o agravamento dos casos. (Confira todos os vídeos do Evento aqui).
No dia 18 de novembro, o FórumDCNTs realizou evento online com vários especialistas e gestores em saúde para debater a associação entre diferentes condições crônicas de alta prevalência e estratégias para preveni-las, diagnosticá-las e controlá-las. Na abertura, Dr. Mark Barone, Vice-presidente da Federação Internacional de Diabetes (IDF) e Coordenador Geral do FórumDCNTs, lembrou que novembro é o mês dedicado à conscientização do diabetes, uma das condições crônicas não transmissíveis (CCNTs) mais prevalentes no mundo inteiro e que é resultado de várias alterações metabólicas. Ele destacou a importância de campanhas nacionais que visam à redução e prevenção dos fatores de risco das síndromes metabólicas, que podem incluir, além do diabetes, obesidade, dislipidemia e hipertensão arterial sistêmica (HAS).
“As campanhas que acontecem em novembro por ocasião do Dia Mundial do Diabetes incentivam a população a adotar uma alimentação equilibrada e praticar atividade física a fim de ter uma vida mais saudável. O tema deste ano expressa bem esta mensagem: Educação para Proteger o Amanhã”, declarou. Ele apresentou ainda alguns números sobre o diabetes, que atinge cerca de 16 milhões de pessoas no Brasil e mais de meio bilhão de indivíduos no mundo inteiro. Outros dados sobre a condição foram divulgados também no evento online realizado no dia 04 de novembro pelo FórumDCNTs.
Além de conscientizar a população sobre sintomas, formas de prevenção e tratamento do diabetes, a Diretora Científica da Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH), Dra. Frida Plavnik, destacou a importância de capacitar os profissionais de saúde, principalmente os da Atenção Primária de Saúde (APS), para que possam fazer o diagnóstico precoce das CCNTs e cuidar da pessoa como um todo, não somente nos aspectos específicos da condição crônica que ela apresenta, isso porque “há uma forte conexão entre diabetes, hipertensão e obesidade, e precisamos agir o quanto antes para evitar que esses fatores de risco evoluam para complicações cardiovasculares e mortes prematura”, declarou. Dra. Frida ressaltou que “capacitar o profissional de saúde é tão importante quanto educar a sociedade, incluindo crianças e adolescentes. A mudança de hábitos deve ser feita precocemente. Todo esse movimento em prol da prevenção vai resultar em uma economia para o sistema de saúde público no futuro”.
Na sequência, a Sra. Patrícia Carvalho, Gerente de Marketing e Desenvolvimentos de novos Negócios da Abbott, abordou sobre a importância do uso das tecnologias point of care para facilitar o acesso ao diagnóstico de condições cardiometabólicas, descentralizando os cuidados e o tratamento. Ela disse que a experiência da pandemia de COVID-19 evidenciou os benefícios de se envolver as pessoas com CCNTs e os cuidadores no diagnóstico precoce, conscientizando-os sobre sintomas, fatores de riscos e uso das tecnologias, como autotestes. “As tecnologias point of care permitem maior acesso principalmente na APS e promovem equidade na saúde, bem como impacto financeiro no sistema a médio e longo prazo, considerando todas as implicações que podem resultar das alterações metabólicas”, disse. “Nossa pauta principal é pensar nas tecnologias point of care para além do ambiente hospitalar e alcançar a atenção primária de saúde para cuidar da pessoa com condições crônicas de forma integral”. Dr. Mark corroborou dizendo o quanto essas tecnologias são bem-vindas em um país onde 1 em cada 9 pessoas com diabetes tipo 1 não recebe o diagnóstico e o número de casos só aumenta.
Assim como o diabetes, a hipertensão arterial também representa uma epidemia, atingindo 30% da população brasileira adulta e sendo responsável por 8,5 milhões de mortes por acidente vascular cerebral, doença isquêmica do coração, outras doenças vasculares e doenças renais em todo o mundo. Apesar do panorama das síndromes metabólicas no Brasil ser bastante preocupante, alguns programas despontam como modelo de gestão para melhorar a saúde cardiovascular da população, como é o caso do HEARTS na Atenção Primária à Saúde em diferentes países das Américas, especialmente para a pressão arterial alta. De acordo com o Dr. Andres Rosende, Consultor da OPAS/OMS para a iniciativa HEARTS nas Américas, “por meio de uma abordagem baseada em protocolos de tratamento padronizados, objetivos e simplificados é possível superar a maioria dos obstáculos que interferem na prevenção e gerenciamento da hipertensão”, entre eles a falta de diagnóstico, a demora no início do tratamento da terapia medicamentosa e a baixa retenção de acompanhamento das pessoas diagnosticadas com essa condição que, associada ao diabetes, aumenta significativamente a mortalidade cardiovascular. O FórumDCNTs acompanha de perto o início da implementação desse pacote de ações no Brasil, que deverá, em breve, englobar também diabetes, obesidade e dislipidemia.
Já o Sr. Fernando Freitas, Analista Técnico da Secretaria de Atenção Primária da Saúde do Ministério da Saúde, apresentou um panorama otimista sobre o programa Previne Brasil, criado em 2019, e mostrou como ele tem ajudado o país a avançar nos cuidados das CCNTs. “O Brasil tinha uma grande dificuldade de cadastrar a população. Com o programa Previne Brasil, os municípios estão se acostumando a cadastrar as pessoas com condições crônicas e prestar uma assistência de qualidade a elas”, disse. Ele citou o trabalho dos agentes comunitários de saúde, que fazem busca ativa por pessoas com CCNTs. O Previne Brasil mapeia sete indicadores de saúde na APS, que avaliam a proporção de gestantes com consultas pré-natal, com realização de exames para sífilis e HIV e com atendimento odontológico; mulheres com coleta de citopatológico; vacinação do público infantil, pessoas com hipertensão e diabetes. Entre os resultados positivos do Previne Brasil está a evolução do número de pessoas com diabetes que passaram por uma consulta médica no semestre e fizeram o exame de HbA1C.
Em 2019, foram menos de 500 mil pessoas, enquanto no segundo quadrimestre de 2022 foram mais de 2,5 milhões, conforme mostra o gráfico abaixo. Já o número de pessoas com HAS que foram atendidas em consulta e tiveram a pressão arterial aferida na APS saltou de menos de 1 milhão para quase 10 milhões. “A APS é, muitas vezes, o primeiro acesso da pessoa ao sistema de saúde. Por isso, é muito importante que esse atendimento seja cada dia mais qualificado e eficaz. Não estamos falando apenas de números, mas de pessoas que receberam um atendimento individualizado”, declarou. Ele ponderou que o avanço desses resultados poderia ser maior, já que o programa é feito em nível nacional e todos os municípios que possuem APS aderiram ao programa automaticamente, mas argumentou que os municípios ainda encontram dificuldades nesta jornada e que o Ministério da Saúde mantém diálogo com as secretarias municipais, buscando soluções para esses problemas.
Por sua vez, o Sr. Cristiano Soster, Assessor Técnico do Conselho Estadual dos Secretários Municipais da Bahia (Cosems-BA), falou sobre o novo modelo de financiamento de custeio da APS. Antes da implementação do Previne Brasil, o financiamento da APS tinha um valor fixo per capita e um valor variável com base nos serviços fornecidos pela população. A partir do Previne Brasil, o pagamento passou a ser dividido em três modalidades: captação ponderada (cadastro dos usuários), pagamento por desempenho e incentivos financeiros por ações estratégicas, como saúde bucal e consultório na rua. “O Previne Brasil estabelece uma nova cultura no processo de pagamento tanto dos gestores quanto dos trabalhadores”, declarou Sr. Cristiano. Ele analisa que o resultado quantitativo é positivo e segue evoluindo, no entanto, o percentual de pessoas avaliadas “ainda é muito baixo” em relação às cadastradas. “Menos de ¼ das pessoas com hipertensão são atendidas em consulta e têm a pressão arterial aferida. Nesse sentido, acredito que o HEARTS poderá ajudar ainda mais a qualificar o atendimento considerando o acesso e estratificando o risco dessas pessoas para que tenham um acompanhamento mais qualificado”, explicou. “A proporção de pessoas com diabetes acompanhadas em consultas e que são avaliadas a partir do exame de hemoglobina glicada também é muito pequeno: menos de 1/5”.
O Prof. Márcio Galvão, da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e membro da Comissão Consultiva do FórumDCNTs, também destacou a importância da capacitação profissional, da educação em saúde e dos marcadores metabólicos para melhorar os desfechos clínicos na APS, mas argumentou que “falta ainda no Brasil um programa permanente robusto de capacitação em saúde na atenção básica e acesso facilitado a evidências científicas”. Segundo ele, o que existe atualmente é um modelo pautado em várias capacitações sem contextualização prática com o trabalho do profissional de linha de frente e sem conexão com a realidade da população local. “O resultado da falta de informação qualificada pode ser percebido em muitos municípios brasileiros onde há enfermeiros que desconhecem técnicas de pressão arterial, médicos com dificuldade de prescrever insulina e farmacêuticos que não sabem indicação de medicamentos”, disse. Outro desafio que ele apresentou foi a dificuldade de acesso de grande parte da população a exames importantes para a qualidade do cuidado e apontou que, muitas vezes, existe um hiato longo de tempo entre a primeira consulta médica, a realização do exame e o retorno ao médico. Nessas situações, o resultado do exame pode estar desatualizado e não ser mais útil. Uma das possíveis soluções para este problema, segundo ele, é investir nas tecnologias point of care para possibilitar que esses os exames sejam feitos concomitantes à consulta e o profissional de saúde possa fazer ajustes terapêuticos.
Portanto, além de investir nos programas que apresentam resultados exitosos no tratamento de CCNTs e síndromes metabólicas, como o HEARTS e o Previne Brasil, e na educação permanente dos profissionais de saúde, os especialistas apontaram como estratégias importantes para que o Brasil alcance um cenário melhor em relação à redução e agravamento dos casos de CCNTs, investir na avaliação física das pessoas com alguma CCNT e solicitar exames básicos para marcadores metabólicos, como hemoglobina glicada, função renal e aferição da pressão arterial; otimizar o tempo do médico especialista, treinando a equipe de saúde para ajudar no acompanhamento dos usuários da APS.
Na imprensa
Parceiros Institucionais
Parceiro Corporativo