A capacitação de hospitais, o uso de tecnologias e a abordagem integrada são passos importantes para salvar vidas e reduzir sequelas do AVC
O evento "AVC: soluções concretas para garantir acesso integral à saúde" destacou avanços e desafios no cuidado ao AVC no Brasil, reunindo especialistas para discutir estratégias e apresentar modelos de sucesso que podem transformar a realidade do atendimento. O encontro contou com a participação de Aristides de Oliveira Neto e Felipe Reque, ambos do Ministério da Saúde; Francis Fujii, do SAMU-SP; Kathiaja Souza, da Boehringer Ingelheim; Octávio Pontes, da FMRP-USP; Pablo Maciel Moreira, da Secretaria Municipal de Saúde de Vitória da Conquista; e Sheila Martins, da Rede Brasil AVC/WSO. A moderação ficou a cargo de Mark Barone, Coordenador-geral do FórumCCNTs.
O principal objetivo do debate foi discutir o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) e a linha de cuidados para o AVC no Brasil, identificar barreiras à sua implementação e apresentar modelos bem-sucedidos que poderiam ser escalados para atender populações subassistidas. Também foram abordadas estratégias de colaboração intersetorial para assegurar um fluxo completo e de qualidade no atendimento ao AVC, desde a prevenção até a reabilitação.
Durante o evento, Mark Barone, Fundador do FórumCCNTs, destacou a relevância do tema, lembrando que o AVC é uma das principais causas de morte no Brasil e no mundo. Ele enfatizou que o risco pode ser significativamente reduzido com prevenção, cuidados rápidos e um sistema de saúde organizado para tratar essa emergência médica. "Precisamos fortalecer a linha de cuidado, com atenção desde a prevenção até a reabilitação, garantindo acesso integral e equitativo a todos os brasileiros", afirmou. Além disso, abordou a relação entre condições crônicas, como diabetes, hipertensão e obesidade, com o aumento do risco de AVC, reforçando a importância de estratégias integradas, incluindo a vacinação, para proteger esses grupos vulneráveis.
As iniciativas da Boehringer Ingelheim no cuidado ao AVC foram apresentadas por Kathiaja Souza, com destaque para os avanços proporcionados pelos medicamentos trombolíticos e o impacto de projetos como o Telestroke, que conecta especialistas remotamente para atender pessoas com condições de saúde em áreas sem neurologistas, e o programa Cidade Angels, que capacita hospitais para um atendimento mais eficiente ao AVC. "O programa Angels já alcançou mais de 100 hospitais no Brasil, levando capacitação e melhores práticas para garantir diagnósticos e tratamentos mais rápidos", afirmou. A importância de gerar evidências científicas e de apoiar políticas públicas que assegurem acesso a diagnósticos e tratamentos de qualidade também foi enfatizada.
As portarias 664 e 665, lançadas em abril de 2012, marcaram um avanço significativo no tratamento do AVC no Brasil, possibilitando o custeio do tratamento trombolítico com a alteplase e, em breve, a incorporação da tenecteplase. A portaria 665 criou três tipos de centros de AVC: Tipo 1, com estrutura básica para trombólise; Tipo 2, com unidade específica de AVC e equipe multidisciplinar mínima; e Tipo 3, oferecendo tratamento completo e reabilitação. Atualmente, o Brasil conta com 119 centros habilitados, sendo a maioria do Tipo 3. Sheila Martins destacou a importância da telemedicina, como o projeto Telestroke, para superar a falta de especialistas em regiões distantes, garantindo consultoria em tempo real. Em 2020, foi consolidada a linha de cuidado para o AVC, desde a prevenção até a reabilitação, e, em 2023, a trombectomia mecânica foi incorporada ao SUS, com base nos resultados do estudo Resilient. O registro Rescue, com mais de 200 hospitais brasileiros, monitora indicadores de qualidade e ajuda a identificar lacunas assistenciais, contribuindo para a melhoria contínua do acesso ao tratamento.
Pablo Maciel Moreira, representando a atenção primária, apresentou as ações realizadas em Vitória da Conquista, que têm como foco a prevenção e a gestão integrada das condições crônicas, fundamentais para a redução do AVC. "A atenção primária é a porta de entrada para um cuidado mais integral e preventivo. Investir nessa base é garantir que menos pessoas cheguem ao hospital com um AVC", afirmou. Em Vitória da Conquista, a cidade tem utilizado tecnologias como monitoramento remoto da pressão arterial e testagem rápida para diabetes e dislipidemia, o que tem permitido a detecção precoce de condições de risco. "Essas ações não só ajudam na gestão das condições crônicas, mas também têm impactado positivamente na redução de complicações", explicou.
Francis Fujii, do SAMU-SP, abordou os desafios enfrentados na maior cidade do país, com uma população de 12 milhões de habitantes que chega a 20 milhões em horários de pico, onde enfrentam o grande desafio de equilibrar recursos escassos com demandas ilimitadas. Com 120 ambulâncias divididas entre três tipos de suporte — Avançado, Intermediário e Básico —, o SAMU adota um sistema de triagem estruturado para priorizar os casos mais graves. Francis Fujii destacou a importância da educação da população sobre sinais de alerta e o acionamento correto do serviço, afirmando que "a utilização otimizada dos recursos pode salvar vidas e melhorar a qualidade do atendimento".
Felipe Reque, do Ministério da Saúde, apresentou iniciativas de expansão da rede de urgência, como o uso de motolâncias e serviços aeromédicos em regiões remotas. Ele mencionou que o SAMU já cobre 88% da população brasileira e que há planos para universalizar o serviço até o final do governo.
A iniciativa "Cidade Angels", pioneira no mundo, foi destacada por Octávio Pontes como um modelo de sucesso. Ribeirão Preto foi reconhecida pela organização exemplar do atendimento ao AVC, integrando educação, protocolos regionais e uso de telemedicina.
Ao final, os painelistas participaram de um debate interativo, mediado por Mark Barone, onde discutiram possíveis ações conjuntas para fortalecer a linha de cuidados ao AVC no Brasil. O debate encerrou com um consenso entre os painelistas: é necessário unir esforços para superar as barreiras existentes, ampliar o acesso a tratamentos modernos e capacitar equipes de saúde para oferecer um cuidado integral e equitativo. O evento deixou um chamado à ação, reforçando o compromisso com a melhoria contínua do atendimento ao AVC e com a saúde pública no Brasil. Assista ao debate aqui:
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