COBERTURA do 6º encontro do Fórum Intersetorial para Combate às DCNTs no Brasil
Brasil surpreende OMS e OPAS e assume liderança entre os países que mais atingem indicadores no enfrentamento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis
No relatório divulgado pela OMS e pela OPAS, Brasil, Chile e Costa Rica são os únicos países das Américas que atingiram por completo 12 dos 19 indicadores prioritários para o enfrentamento das DCNTs, responsáveis por 71% das mortes precoces no mundo. Na sequência aparecem Canadá, com 11 indicadores, e EUA, com 9.
As Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNTs) são responsáveis por 71% das mortes precoces no mundo, e 74% de mortes no Brasil, e estão dentro dos desafios do Ministério da Saúde para atingir a meta 3.4 do ODS3 da ONU. Durante a 6ª edição do FórumDCNTS, o fundador e coordenador geral do evento, Dr. Mark Barone, apresentou o recente relatório publicado pela OPAS (Organização Pan Americana da Saúde) e a OMS (Organização Mundial de Saúde), que apontou o Brasil como um dos países que mais atinge indicadores no enfrentamento da DCNTs, totalizando 12.
Dr. Guy Fones, OMS, compartilha a preocupação em relação às
mortes precoces causadas por DCNTs que poderiam ser prevenidas
“Além de 74% de mortes no Brasil serem por Doenças Crônicas Não Transmissíveis, como hipertensão e diabetes, 17% delas são prematuras, ou melhor, em pessoas com menos de 70 anos de idade. Estas últimas são o foco do ODS 3.4 da ONU: ‘reduzir em um terço a mortalidade prematura por DCNTs até 2030, via prevenção e tratamento, e promover a saúde mental e o bem-estar’. Apesar de isso indicar que o Brasil tem programas e políticas consistentes, com planos e metas nacionais para enfrentar essa situação e conquistas a celebrar, como o sucesso das políticas anti-tabaco, ainda existem importantes desafios. Esses 12 indicadores atingidos nos colocam à frente de outros países com a certeza de que estamos trilhando por um bom caminho, porém com o consumo de álcool, a obesidade, os alimentos ultraprocessados e, agora, a pandemia COVID-19, a serem enfrentados”, analisa Dr. Barone.
Desafios e medidas
Apesar das conquistas obtidas, o Brasil ainda precisa travar uma luta em diversos sentidos para atingir a meta da ONU. O consumo excessivo de álcool ainda é um problema diante das campanhas publicitárias e a carência de tributação específica sobre os produtos comercializados. Obesidade e alimentação não saudável são também pontos críticos.
“De um lado a obesidade, uma doença ainda não levada a sério, de outro a negligência em implementar rapidamente políticas que regulem a adição de sal nos alimentos e obriguem a substituição da gordura trans nas preparações. A disponibilidade de medicamentos e orientações sobre as doenças cardiovasculares, principalmente na atenção primária, ainda estão a desejar no Brasil. Esses são alguns dos fatores mais preocupantes no enfrentamento das DCNTS. O Brasil, por exemplo, é o segundo país que mais tem perdas de Produto Interno Bruto (PIB) devido a obesidade. É alarmante, pois é um dos fatores de risco para diabetes, hipertensão, doenças cardíacas, câncer, entre outras”, alerta o coordenador do evento.
Para o Dr. Edson Araújo, do The World Bank e palestrante do FórumDCNTs, “um dos principais desafios do SUS é expandir e coordenar acesso aos serviços de saúde - o que poderia ser resolvido com APS mais eficiente”. Ele também complementou a questão sob o aspecto de seis desafios que o setor de saúde tem para atingir a ODS 3.4:
1) Financiamento: o gasto total com saúde é alto, mas o gasto público é relativamente baixo;
2) Espaço fiscal: projeções (BM) indicam que na ausência de reformas, a trajetória fiscal do Brasil será insustentável (déficit primário = 5% do PIB 2030, dívida pública = 150% do PIB);
3) Qualidade: três em cada quatro brasileiros avaliam o sistema público de saúde como ruim ou péssimo (CNI/ IBOPE, 2018);
4) Fragmentação: a maior parte dos municípios brasileiros tem menos de 20 mil habitantes;
5) Mercado de trabalho: a oferta de médicos é relativamente baixa e concentrada nos centros urbanos;
6) Gestão: evidências apontam para melhor desempenho, produtividade e qualidade das unidades de saúde administradas por OSS.
Na visão de Sheila Vasconcellos, ADILA, a propagação da informação é o grande desafio que levará ao desfecho sobre as DCNTs. “É preciso engajar o paciente para ter uma aderência maior ao tratamento, adotar medidas preventivas e mobilizar o seu entorno, atuando eficientemente com o sistema de saúde local.”
Para Lívia Faller, SAPS-MS, é preciso falar em cuidado da organização. “Desde maio de 2019, o ministério vem se organizando com enfoque no cuidado do paciente por meio de diversos programas efetivos vinculados a uma equipe de saúde da família”. José Otávio Corrêa, Abbott, complementa com o fator integração do público com o privado, aliado a organização, como ponto primordial para colaborar com as soluções para o enfrentamento das DCNTs, “trazendo mais agilidade para o governo identificar as necessidades não atendidas em relação às doenças.”
Saúde digital é o caminho apontado por Dra. Ann Aerts, da Novartis Foundation, e Cauê Bueno, da HackMed. Dra. Aerts destacou em sua apresentação as oportunidades de integração da tecnologia em todas as esferas da saúde “vindo a ser tão essencial quanto os leitos hospitalares, uma vez que seja usada como ferramenta de empoderamento para equipes médicas e pacientes”. Já Bueno deu exemplos de como a tecnologia pode atuar em prol da saúde utilizando a inteligência artificial, big data, automação, aplicativos, wearables e telemedicina a favor do rastreamento do quadro clínico de cada indivíduo promovendo, assim, a cobertura universal do setor.
COVID-19: mais um grande desafio
Dr. Barone não podia deixar de destacar o ‘grande elefante branco’ atualmente. “Se já vínhamos nessa batalha que não era fácil em relação às DCNTs, a COVID-19 é mais um desafio, afinal desde o começo da pandemia na China, e logo após na Itália, verificou-se que a taxa de letalidade chega a ser quase dez vezes maior em pessoas com DCNTs: doenças cardiovasculares 13,2%, diabetes 9,2%, hipertensão 8,4%, doença respiratória crônica 8,0%, e câncer 7,6%, em comparação com 1,4% em pessoas sem DCNTs.”
Marília Albiero, ACT, alerta para os riscos da pandemia sobre DCNTs
que já não conseguíamos reduzir a prevalência
Neste sentido, Dr. Barone citou a frase da Primeira Ministra da Noruega e do Presidente de Gana: "Essa pandemia expôs a crise nos sistemas globais de saúde. E, embora esteja minando severamente as perspectivas de alcançar o ODS 3 até 2030, também está tendo efeitos de longo prazo em todos os outros ODSs.”
Outro agravante com a pandemia é a questão do aumento acentuado de eventos cardiovasculares e a piora da saúde mental da população, de acordo com a apresentação do Dr. Barone durante o 6º encontro do FórumDCNTs. “A pandemia pode servir como gatilho, em casos de predisposição, ou levar à recaída de pessoas com depressão e ansiedade diante da solidão, insegurança e o medo.” Segundo a Dra. Fatima Marinho, Vital Strategies, "é preciso já se preparar, visto que pico de eventos cardiovasculares, com aumento do número de mortes, apresenta-se um mês após pico de síndrome respiratória, como o que estamos vivendo".
Dra. Luciana Sardinha, SVS-MS, apresenta eixos e linhas de ação do
novo Plano Nacional de Enfrentamento às DCNTs
Dr. Eduardo Marques Macário, SVS-MS, e Marília Sobral Albiero, ACT Promoção da Saúde, concordam com a questão do agravamento dos casos de obesidade e diabetes em tempo de pandemia. “As geladeiras estão à disposição das pessoas que estão em estado de atenção com suas preocupações e o atual cenário econômico brasileiro”, disse o Dr. Macário. “É importante cuidar do sistema imunológico nesta época em que os alimentos ultraprocessados estão ainda mais disponíveis para uma sociedade ansiosa com este cenário”, acrescentou Marília. Para o Dr. Bruno Halpern, da ABESO, já estamos em uma pandemia da obesidade há tempos, que se iniciou na década de 70. “E ainda não encontramos uma solução eficiente para freá-la. A COVID nos faz pagar pelo preço por negligenciar esta doença crônica."
Tiago Lobo, TJCC, expõe o desafio da falta de dados sobre os casos de câncer no Brasil
No caso do diabetes, uma pesquisa coordenada por Dr. Barone com 1.500 pessoas, ainda em andamento, apontou que 40% dos entrevistados estão adiando suas consultas médicas para depois da pandemia. “A falta de cuidados é extremamente preocupante e, certamente, trará consequências. Desde o início da pandemia, houve o compromisso de entrega de insumos e medicação pelo governo para três meses. Porém, com essa pesquisa, verificamos que apenas 13,1% receberam nessa quantidade para três meses, quase 50% continua tendo que retirar mensalmente o material para seus autocuidados. Isso significa que as pessoas com pior prognóstico, caso infectadas, são obrigadas a sair do isolamento e irem retirar seus medicamentos em locais onde infectados com o coronavírus estão se apresentando. Como consequência, há aquelas que deixaram de retirar seus medicamentos com medo do contágio”. Pesquisas mostraram, também, que a COVID-19 pode levar ao desenvolvimento de diabetes e induzir alterações metabólicas de longo prazo, sendo, portanto, o monitoramento cardiometabólico criterioso necessário daqui para frente”, finalizou Dr. Barone, afirmando que é preciso agir hoje, além de otimizar as parcerias (ODS 17).
Idealizado em 2016, o FórumDCNTs, fundado e coordenado por Dr. Mark Barone, tem como objetivo reunir lideranças dos setores público, privado e terceiro setor para o combate à principal causa de mortes precoces no País: as Doenças Crônicas Não-Transmissíveis.
As Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNTs) são responsáveis por aproximadamente 71% das mortes no mundo e, de acordo com o Vigitel de 2018, 74% das mortes no Brasil. As DCNTs com maior impacto sobre a população brasileira são as doenças cardiovasculares (28%), as neoplasias (18%), as doenças respiratórias (6%) e o diabetes (5%). Sabe-se que grande porcentagem dessas doenças e suas complicações podem ser prevenidas.
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